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RAÍZA SÉRIE
30:00 min
WEBTVPLAY APRESENTA
RAÍZA
Série de
Cristina Ravela
Episódio 19 de 20
PENÚLTIMO EPISÓDIO DA PRIMEIRA TEMPORADA
PENÚLTIMO EPISÓDIO DA PRIMEIRA TEMPORADA
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FADE IN
CENA 1 L.A HOUSE [EXT./NOITE]
Close na boate ao longe.
Ouvimos passos e a cena vai virando mostrando que alguém chega com pressa à
calçada. São pés de mulher.
A
cena sobe devagar revelando Raíza, num vestido preto, alças pretas
transparentes e um laço na cintura cuja cauda vai até o joelho.
Porém, seus cabelos contrastam com sua roupa.
Desalinhada, de maquiagem borrada e uma tensão no rosto, a garota olha a boate
e corre para entrar.
L.A
HOUSE [INT.]
Dcr
estranha sua chegada.
DCR: Pensei que não viesse mais...
A
garota observa as pessoas, o ambiente e tudo pareciam normais. O rapaz traja
uma camisa cinza de gola e calça jeans.
DCR (cont.): Nossa Raíza! Quem
você andou beijando que não te deu tempo nem de você se retocar?
Ela
esboça raiva, mas ele não nota. A conduz até o toillete.
DCR: Vá, antes que o Cael te veja
assim.
TOILLETE...
Raíza
entra relutante. Vira-se pro espelho e vê seu braço marcado pelas mãos de
alguém.
Close
no braço.
A
porta se abre e Rafaela entra apressada.
Ela
percebe Raíza esconder o braço com outra mão.
RAFAELA: Amiga! Quem te fez isso?
Raíza
não diz nada. Fica aquela expectativa de que alguém entraria ali ou que Rafaela
desistisse da pergunta. Mas não adianta.
RAFAELA: Então, Raíza? Pode confiar em
mim. Quem te fez isso?
RAÍZA (em OFF): Hum, confiar...Seria
a última coisa que eu faria...
Ouvimos
um estrondo, Raíza e Rafaela se abaixam com o impacto e a lâmpada acima do
espelho se quebra. Em seguida, gritos soam pelo banheiro.
RAFAELA: Meu Deus! O que foi isso?
RAÍZA: Não sei, vamos sair daqui,
rápido!
Elas
saem, depressa.
TOILLETE
[EXT.]
VOZ: CORREM! CORREM!
O
fogo vai tomando pouco a pouco o lugar.
As
pessoas correm, gritam, amontoam-se na entrada. Um globo de luz explode.
RAÍZA: Vai, Rafaela! Corre!
Rafaela
se junta ao pessoal. Raíza se distancia.
RAÍZA: ARI! DCR!
Um
grupo acaba empurrando-a e ela vai pra fora da boate.
L.A
HOUSE [EXT.]
Em
meio aos gritos e ao fogo que se alastra, Raíza vai se afastando até chegar ao
beco. De longe, Raíza olha o beco, apreensiva.
L.A
HOUSE – CASSINO [INT.]
Os clientes, alterados, saem correndo e, entre
eles está Josué.
Raíza
observa, invisível.
RAÍZA (murmura): Então é aqui que
meu tio vem quase todas as noites?
Ouve-se
mais um estrondo, Raíza olha pra cima e o pedaço do teto desaba sobre a roleta.
Pelo
buraco que se abre, Raíza vê Dcr passar. A garota se volta, olhando para o teto
quando este desaba.
Dcr
cai de uma altura de 3 metros nos braços da amiga. Ele se olha, muito assustado
e aparentemente suspenso no ar.
[1º
plano]
Ele
arregala os olhos, extasiado.
CAEL (V.O): TIREM A GENTE DAQUI!
ESTAMOS PRESOS!
Ouve
o grito de algumas pessoas dando a entender que foram pegos pelo fogo ou que
algo desabou sobre eles.
RAÍZA: CAEEEEL!
De
costas para a janela de vidro, Cael olha na direção de onde veio o grito e é
envolvido pelas chamas.
Corta...
Raíza
e Dcr, que nem imagina quem o segura, olham assustados para cima.
Parte
do teto do cassino desaba por completo sobre ela e Dcr...
FADE
OUT
1X19 PESADELO
FADE
IN
CENA 2 APTº 403 – QUARTO DE RAÍZA [INT./MANHÃ]
Ouve-se um ruído estranho. Ari acorda, olha pro
lado, Raíza não está em sua cama. Espicha pra mesa de cabeceira.
O
relógio marca cinco horas.
Ela
levanta, põe os pés no chão e se assusta com o que vê.
Raíza
está num canto encolhida ao lado da mesa.
Olhos forçadamente fechados, mãos
voltadas pra cima, sobre as pernas.
Ari
toca seus ombros, devagar. Raíza abre os olhos, lacrimejados, levanta o rosto e
vê Ari, assustada.
RAÍZA: Ari? (sorriso nervoso)
Ari...Tira ele daqui...Eu não tô conseguindo e essas pedras podem matá-lo...
ARI (murmura): Pedras? Que pedras?
Acho que você sonhou.
RAÍZA: Ari, me ajuda...Você não tá
vendo a boate pegar fogo?...
Ari
mostra-se penalizada com sua afirmação. Raíza nota, olha para suas mãos vazias.
ARI: Você tá muito apertada aí.
Vem, levanta.
Ari
a ajuda se levantar.
RAÍZA (aturdida): Não...Cadê ele?
(pausa) Ele sumiu! Foi esmagado! E eu não pude evitar, não pude evitar!
Ari
a sacode.
ARI: Raíza! Raíza! (Raíza está
transtornada) Você sonhou, tá ouvindo? Você sonhou! Olha! Você tá em seu
quarto.
Raíza
começa a enxergar o quarto e uma expressão de alívio se arremete em seu rosto.
Ela fecha os olhos, contém o choro.
ARI: O que tá havendo, Raíza? Que
sonhos são esses que parecem tão reais?
Raíza
não tem resposta.
CORTA
PARA
CENA 3 MANSÃO – SALA DE JANTAR [INT./MANHÃ]
Numa mesa longa, em uma das pontas está Cael.
Do seu lado, Valentina e na outra ponta, Lara.
Sobre
a mesa, bolo de laranja e chocolate, geléia de framboesa, torradas, sucos e
café. Uma variedade que pouco se vê na casa de Raíza e que ali sobra.
Cael
leva à boca uma torrada.
CAEL: Pena meu pai não estar aqui
com a gente, não?
LARA: O seu padrasto
(ênfase) tem negócios a resolver...Provavelmente você pouco o virá.
CAEL: Esqueci que a presença dele
lhe incomoda (alfineta)... Já provou desta geléia, mãe? (ele passa a geléia na
torrada)
Lara
fita-o sem que ele veja. Valentina nota.
VALENTINA (disfarça): Seria bom que o
meu sogro viesse porque... (ela toca a mão de Cael) Hoje é aniversário de 8
anos da boate e isso é muito importante pro Cael.
Este
esboça um sorriso.
LARA: Ah eu esqueci de dar os
parabéns...Para um grande empreendimento...Não seria o caso de você dar de
presente para a boate um nome novo?
CAEL: Tantos anos e a senhora ainda
se perturba com isso? Não se esqueça que o nome foi sugestão do Marco, hein.
Ele passou tanto tempo em Los Angeles que quis fazer essa homenagem...
LARA (segura seu copo): Aquilo nem
de longe parece com Los Angeles...(Ela toma um gole)
CAEL (toma o suco): Já vai começar
com suas implicâncias?
LARA (desconversa): O Marco estará
lá na festa?
CAEL: Se ele quiser aparecer...É só
apresentar o convite.
LARA (altera): Ele é parte do que
essa casa noturna é hoje! Como pode exigir que ele entre de convite?
CAEL: Ele não é trabalhador da
casa...(serenamente) E ele sabe como as coisas funcionam.
Lara
bate o copo sobre a mesa.
LARA: Ele é seu irmão!
CAEL: Pensei que não fizesse
questão de lembrar disso.
LARA: Você se esquece que ele te
ajudou a erguer aquela joça!
CAEL: E quase ajudou que ela fosse
à falência...
Lara
se levanta e joga o guardanapo sobre a mesa. Valentina se mostra apreensiva.
LARA: Onde estão as provas? Você
fala, fala, mas não diz nada! E ele já disse que foi tudo um mau entendido.
CAEL: O que ele disser pra senhora
é lei, não?
Ela
aponta o dedo com ar de quem tem certeza do que pensa.
LARA: Você tem inveja do seu irmão,
isso sim...Ele agora está lá, num verdadeiro empreendimento exercendo bem a
profissão dele.
Cael
se enfeza. Joga o guardanapo sobre a mesa, assustando a namorada e se levanta,
imediatamente.
CAEL: Eu não vou ficar aqui
tentando convencê-la de que eu também tenho um empreendimento e que um dia, um
dia! A casa noturna se tornará um grande empreendimento também.
LARA: Isso se ela não for pelos
ares antes!
Clima.
Lara sai, enfurecida. Valentina está assustada e Cael, aborrecido.
CORTA
PARA
CENA 4 ED. CIRANDA DE PEDRA [EXT.]
APTº
403- COZINHA [INT.]
Na mesa de café da manhã, há apenas uma cesta
de pães, o café, servido em copos comuns e não em xícaras, e pães de fôrma
também.
Bruno
está sentado numa das pontas da mesa quadrada e pequena. Josué, na outra ponta;
Raíza, de frente para Ari e ao seu lado, João Batista. Raíza abocanha o pedaço
do pão e olha para o tio, meio de canto. Ari a observa.
RAÍZA (em OFF): Quer dizer que ele
deu pra frequentar cassinos...E a beber...O que será que o motivou a isso?...
JOSUÉ: O que é, Raíza? (incomodado)
Quer falar alguma coisa? É a minha barba que tá por fazer, é? (ele toca o
próprio rosto)
Raíza
acorda de seus pensamentos.
RAÍZA: O senhor vai vir direto pra
cá quando sair do colégio?
Josué
e os demais se entreolham. Ele gagueja, não encara a sobrinha e toma o gole do
café antes de responder.
JOSUÉ: Por quê? Por que a pergunta?
RAÍZA: É que o senhor tem chegado
tarde, ‘né’...
Ari
abaixa a cabeça. João bate com o copo na mesa.
JOÃO: E o que você tem a ver com
isso, Raíza? Era só o que faltava ele ter que te dar satisfação, ‘né’?
RAÍZA: Eu perguntei pro meu tio, tá?
JOSUÉ: Eu acho que sou bem grandinho
e...(bate uma curiosidade sinistra) A não ser que você tenha um bom motivo pra
querer saber...
INSERT
– pernas de Ari
Ari
cutuca a perna na amiga pra chamar sua atenção.
VOLTA
À CENA
RAÍZA: Eu me preocupo contigo,
tio... A gente nunca sabe o que pode acontecer...(olhar de cúmplice) Não é?
JOÃO: O que é, Raíza? (tom
provocativo) teve algum pesadelo?
Raíza
faz cara de dúvida.
RAÍZA (tom intrigante): Quem sabe?
JOÃO: Eu acho (termina de comer e
se levanta) que suas atenções não estão mais voltadas aqui pra casa...Há muito
tempo...
RAÍZA: Se você se refere...
BRUNO: Será que podemos tomar o café
em paz?
Silêncio.
RAÍZA: Pra mim já deu.
Ela
se levanta e sai da cozinha.
BRUNO (para Josué): Você devia tá
agradecido por ela se preocupar com você...Ela se preocupa com
você...
Josué
faz aquela cara de quem acaba de receber uma luz divina.
Ari
toma o café, de olho nos dois.
CORTA
PARA
CENA 5 APTº 403 – QUARTO DE RAÍZA [INT.]
Raíza se ajeita diante do espelho, meio
nervosa, meio aborrecida.
ARI: Você não pode tá levando a
sério esses seus sonhos, ‘né’?
RAÍZA: Não é a primeira vez que isso
acontece, Ari. Lembra que foi assim que te encontrei na clínica?
Ari
está sentada na cama dela.
ARI: É isso que me deixa encucada.
Mais parece premonição...
Raíza
a olha pelo reflexo do espelho.
RAÍZA: Eu não sei, eu não
sei...(muda de assunto) Você viu a cara do meu tio? Sinal de que esconde algo.
ARI: É, eu achei que você fosse
pedir pra ele não ir ao cassino hoje...
Raíza
veste short jeans.
RAÍZA: Se ele fosse morrer, (ela
veste uma frente-única) morreria de burro que é...
ARI: Credo! (ela senta na cama /
pausa) Mas...Será que é medo?
RAÍZA: Não.(Abre a porta do
guarda-roupa e pega um gloss) O nome disso é João Batista. (Passa o
gloss)Parece que tudo que ele fala agora vira lei.
ARI: Acho que ele ficou assim
desde que você não o salvou daquele ataque.
RAÍZA: Que nada! (ela torna a
guardar o gloss)Aquilo só foi a gota d’água. Ele tá assim há muito tempo...Ele
pensa que eu esqueci de quando, por causa dele, eu caí dessa sacada e fui
atropelada aqui em frente.
ARI: Você acha que...
RAÍZA: Desconfiado? Olha, eu não sei
por quê, mas sinto que ele não pode saber da verdade... tchau, amiga!
ARI: O que pretende fazer?
Raíza
apanha a bolsa sobre a cama.
RAÍZA: Descobrir se o meu sonho tem
fundamento.
Ari
se levanta e se coloca na frente dela.
ARI: Ai, Raíza. Você por acaso vai
contar pro Cael o que sonhou?
RAÍZA: Não, mesmo por que eu nem
saberia como contar. Eu vou tentar impedir que Dcr vá à festa.
ARI: Nesse caso, a Rafaela também,
‘né’?
Raíza
se volta com ar indeciso. Meneia a cabeça sem muita firmeza.
SALA...
Raíza
abre a porta, sai e a porta prende. Josué a intercepta no corredor, com ar de
preocupado.
JOSUÉ: Você perguntou se eu viria
pra casa por quê? Viu alguma coisa? Foi ao futuro?
A
garota esboça um tênue sorriso por entre os lábios.
RAÍZA: Por que será que de uma hora
pra outra o senhor passou a acreditar que vejo o futuro?
JOSUÉ: Viu ou não viu?
RAÍZA: Não, tio. Não vi nada...
FADE OUT
FADE IN
CENA 6 ED. CIRANDA
DE PEDRA [EXT.]
Raíza atravessa o portão, apressada.
VOZ: Raíza!
Ela se volta e vê Cael saindo de seu novo carro, um Toyota
preto. Ele traja camisa social azul e calça preta.
Aproxima,
sorrindo. Há um envelope em suas mãos.
CAEL: Bom dia, Raíza!
RAÍZA: Bom dia...Aconteceu alguma
coisa?
CAEL: Por quê? Tem que acontecer
alguma coisa pra eu vir te ver?
A
garota sorri, sem graça e dirige os olhos para o que ele tem em mãos.
CAEL: Eu sei que você deve ter
estranhado eu não ter entregado os convites pela Ari, mas é que eu queria fazer
isso pessoalmente.
A
garota levanta as sobrancelhas fingindo que aquilo é novidade. Pega o envelope.
RAÍZA: Sabe, tem uma coisa que tô
pra te perguntar há algumas semanas...
CAEL: Quer saber como um cara
bacana como eu tem um cassino...Clandestino?
Raíza
sorri, novamente sem graça.
CAEL: Não vou dizer que a idéia foi
do meu irmão como se eu não soubesse o que estava fazendo; Isso seria dizer que
fui influenciado. Mas confesso que eu queria ganhar dinheiro logo.
RAÍZA: Sonegando impostos?
CAEL: Há oito anos eu ainda era um
pouco imaturo. Eu queria mostrar pra minha mãe que eu podia me dar bem e que eu
não queria depender do meu pai, que ela fazia questão de chamar de ‘pai do
Marco’.
RAÍZA: Você gosta dessa vida? Nunca
pensou em mudar, já que o seu irmão nem trabalha mais contigo?
Ele
olha pra cima, num olhar distante como se pensasse no futuro.
CAEL: Já...Mas não sei como...É tão
difícil recomeçar, pensar em novas coisas quando já se tem algo pronto e dando
certo...
RAÍZA: Pra você, ‘né’? E aquelas
pessoas que vão lá beber, fumar e jogar até se acabar? Eles estão destruindo as
próprias vidas enquanto você ganha dinheiro.
É
a vez de Cael ficar sem graça.
CAEL: Talvez eu nunca tenha visto
as coisas por esse lado.
RAÍZA (rebate): E por qual lado você
via? De que eles não são obrigados a ir até lá? De que são todos maiores de
idade e sabem o que tão fazendo?
CAEL (chateado): Isso foi uma
crítica?
Raíza
não consegue dizer nada. Cael está visivelmente aborrecido.
CAEL: Claro que foi. (pausa) Já sei
que não posso contar com a sua presença na festa.
Ele
dá as costas, ela tenta lhe dizer algo mais, mas o deixa partir.
Ao
voltar-se, depara, na outra calçada, com Cipriano a olhando, sorrindo e com as
mãos nos bolsos.
CORTA
PARA
CENA 7 CARRO [INT.]
Cipriano dirige e observa o convite que Raíza
tanto olha.
CIPRIANO: Brigaram?
RAÍZA: Hã? (ela guarda o convite na
bolsa)
CIPRIANO: O Cael. Notei que ele saiu meio
aborrecido.
RAÍZA: Não. Quero dizer, acho que
não.
CIPRIANO: Se não quiser me contar...
Raíza
reluta, vira o rosto pro lado da janela. Vira de novo.
RAÍZA: Você acha que todo dono de
cassino sabe quem o frequenta?
Cipriano
lhe dá uma olhada, torna a olhar pra frente.
CIPRIANO: Saber quem são todos que
frequenta, acho difícil. Mas se for conhecido...
Raíza
bufa. Olha pro seu lado da janela.
CIPRIANO: Você se incomoda por ele ser
dono de cassino?
RAÍZA: Ele? Ele quem?
CIPRIANO: Ora, Raíza! O Cael.
RAÍZA: (A garota respira
profundamente) Ah quando é com os outros a gente sempre acha ruim, mas...Quando
é com um amigo nosso...A gente acha banal...
CIPRIANO: Até que essa coisa banal
entra em nossa família, não é?
Raíza
encara Cipriano.
RAÍZA: Você também sabe?
Ele
se faz de desentendido.
CIPRIANO: Sobre?
RAÍZA: O meu tio que...Que deu pra
jogar.
CIPRIANO: Eu me referia a você e o Cael
estarem cada vez mais próximos, mas (finge)...O Josué agora é um jogador?
RAÍZA: Eu nem sei em que momento
isso aconteceu...
Ele
só olha pra frente, semblante tranquilo, jeito de quem fala por falar.
CIPRIANO: Talvez ele esteja se sentindo
dividido...Entre você e seu primo, sabe...Sem saber quem é o certo e o errado.
RAÍZA: Nesse caso eu devo ser a
errada...
CIPRIANO: Nunca! (tom expressivo) O seu
primo acha que você tem obrigação em ajudá-lo só por que já ajudou o Marco. Seu
tio sabe que as coisas não funcionam assim, mas ao mesmo tempo concorda quando
ele te acusa de não estar por perto para ajudá-lo.
RAÍZA: Ai meu Pai Eterno do céu
azul! O que fazer agora?
CIPRIANO: Nada. Enquanto o João existir
seu tio vai continuar na dúvida de quem ele deve defender.
Raíza
se mostra confusa. Talvez esperasse algum conselho ou...Aquilo fosse um
conselho. Não entende muito bem.
RAÍZA (em OFF): Enquanto o João
existir...
Ela
repete pra si mesma aquela frase meio assustada e, ao mesmo tempo, com um
prazer sinistro nos olhos.
FADE OUT
FADE IN
CENA 8 APTº 215 [EXT.]
Mãos de alguém na campainha.
Toca.
A
porta se abre e Daniel atende com um sorriso nos lábios.
DANIEL: Raíza? Entre!
Ela
entra com as mãos dentro dos bolsos do short.
RAÍZA: Tudo bem?
DANIEL (fechando a porta): Bem, bem e
você? Soube o que aconteceu com seu pai semana passada.
RAÍZA: Eu vou bem, ‘brigada’. Meu
pai também, com a graça de nosso Pai celestial.
Ele
ri.
DANIEL: Você fala tão engraçado...Mas
senta. Ó o Dcr não está.
Ela
senta e suspira.
RAÍZA: Ah, que pena.
DANIEL: Aconteceu alguma coisa? Você
parece preocupada.
RAÍZA: Ahn...Não...(muda o assunto)
Ele vai à festa na boate?
DANIEL (senta ao seu lado): E ele ia
perder? (sorri) Ele até comentou que você havia dito não querer ir antes mesmo
de receber os convites.
A
garota está absorta.
DANIEL: Você teve algum
pressentimento?
RAÍZA: NÃO! (responde receosa)
DANIEL: Ah, Por que eu tive. Quero
dizer, eu sonhei...Bem, deixa pra lá você não deve tá interessada...
RAÍZA: Não, diga! O que sonhou?
DANIEL: Você jura que não vai ri? Por
que eu contei pro ‘Dc’ e ele ignorou.
RAÍZA: Pode falar.
DANIEL: Bom, então...Sonhei que algum
lugar pegava fogo...Vi meu filho na calçada e você saía correndo. Foi tão
estranho e...Ao mesmo tempo vago. Pedi que ele não fosse à boate, mas você sabe
como ele é, ‘né’?
Raíza
está meio atordoada com aquele relato já que, no futuro o qual presenciou, Dcr
não escapa da morte.
RAÍZA: Ele tinha que te dar mais
ouvido...
CORTA
PARA
Takes
da cidade
CENA 9 RUAS DA CIDADE
De frente pra um edifício, Rafaela conversa de
forma bastante suspeita, com um sujeito bem apanhado, camisa social branca
listrada e calça igualmente social.
Ele
carrega uma pasta preta e, ao longe, Raíza observa.
RAÍZA (em OFF): Ah, o professor
dela...Vou lá falar com ela.
Tenta atravessar a rua, mas espera um ônibus
passar.
Sob
seu ponto de vista ela vê aqueles dois se beijando. Num ímpeto, apanha o celular
e filma a cena.
RAÍZA (em OFF): Só pra saber se é
bom pegar os outros no flagra (sorri).
FADE OUT
FADE IN
CENA 10 ED. CIRANDA
DE PEDRA [EXT.]
APTº
403 – QUARTO DE RAÍZA [INT.]
Raíza
joga a bolsa sobre a cama, cansada, ar de decidida.
RAÍZA (em OFF): Seu eu contar o
sonho do seu Daniel, vou dar muita bandeira. Duas pessoas não têm o mesmo
sonho.
Ari aparece da porta.
ARI: E aí? Falou com o Dcr?
RAÍZA (se volta): Tá decidido, Ari!
(ela senta na cama e esfrega as mãos nos joelhos, nervosa) Eu não posso querer
salvar a vida das pessoas de que gosto quando a vida de muita gente tá em jogo.
Ari
agacha-se à sua frente e põe as mãos nas delas para conter sua ansiedade.
ARI: É como eu já havia falado...
RAÍZA (repete): Eu não sou a heroína
do mundo; Não posso evitar tudo que tá predestinado a acontecer, ‘né’?
Raíza
levanta-se, agora indecisa, põe as mãos nos bolsos.
RAÍZA: ‘Cê’ acredita que briguei com
o Cael?
Ari
levanta, surpresa.
ARI: E você conseguiu? Não me diga
que você o acusou de não contar sobre o Josué?
RAÍZA:
Quase. Mas aí eu estraguei tudo com meus comentários.
Raíza
se olha no espelho e Ari toca seus ombros. Vemos seu reflexo no espelho
enquanto fala.
ARI: Uma pena viu. Por que eu
fiquei pensando: Já que você tá encucada com isso por que não sugerir ao Cael
uma vistoria na boate antes da festa?
RAÍZA: E você acha que ele já não
mandou fazer isso? Não tem jeito, Ari! Não tem jeito!
Bate
um silêncio.
ARI: Diga logo então que você teve
um sonho daqueles! Um pesadelo! Ele não vai achar indiferente vindo de você.
Raíza
se vira.
RAÍZA: ‘Cê’ pirou ‘né’, minha filha?
Mais uma dessa e me internam!
Ari
se cala. Raíza mostra-se arrependida.
RAÍZA: Ai Ari, é que não posso
chegar assim e dizer: Cael, eu tive um sonho...Larga mão dessa festa que vai
ser melhor pra todo mundo. Não posso!
ARI: É, é meio estranho
mesmo...Você podia falar da vistoria então, é o jeito! Acho que vistoriar a
casa uma hora antes de abrir garante uma noite sem sustos, mas...Como se agora
vocês estão brigados?
RAÍZA: Acha que um pedido de
desculpas resolve?
No
corredor, João escuta atento. Vai até a rack do computador e apanha o telefone.
Disca.
JOÃO: Sou eu...
A
tela se fecha num baque.
FADE
IN
CENA 11 COLÉGIO FRANÇA - SALA [INT./FIM DE TARDE]
Mãos de alguém batendo a caneta sobre o caderno.
Raíza não dá atenção ao que o professor diz diante do quadro negro.
RAÍZA (em OFF): Se eu não for...Se
eu não fizer nada, o sonho do seu Daniel não deixará de se realizar por causa
disso...Mas também não posso ignorar o que vivenciei...
RAÍZA (soca a mesa): Que droga!
Todos
a olham.
SECRETARIA
[EXT.]
Raíza caminha de um lado e de outro. Alguém
abre a porta.
RAÍZA: Ah, ahn...O professor Josué
está aí?
MULHER: Ele já saiu faz tempo.
RAÍZA (murmura): Que pressa pra
jogar, caraca!
CIPRIANO (O.S): Quer que eu te leve em
casa?
RAÍZA: Aai! Que mania de me
assustar!
CIPRIANO: Levando susto à toa, Raíza?
RAÍZA: Não...Ahn...Eu vou sozinha,
‘brigada’.
Cipriano,
cismado, a vê sair muito apressada.
CIPRIANO (murmura): Até parece que ela
sabe de alguma coisa...
CORTA
PARA
CENA 12 MANSÃO [EXT.]
SALA
[INT.]
Marco
olha pela janela, aspecto estranho. Esfrega as mãos e as coloca nos bolsos da
calça. Ouve-se passos.
CAEL (O.S): Pensei que fosse
aparecer na boate...
Marco
sorri, irritantemente.
MARCO: E eu pensei que você não me
quisesse lá.
CAEL: Você está aqui...
Cael
pega as chaves do carro sobre a mesa central.
MARCO: A minha mãe mora aqui.
CAEL: Claro! Deve ser meio
desconfortável pra ela morar num apartamento. (pausa) Juízo.
Ele
sai, mirando nele.
Marco
vai até o...
ESCRITÓRIO...
Debruça
na janela.
[POV
de Marco]
O
Toyota de Cael acelera e some na estrada.
Adiante,
um ônibus no lado oposto pára. Raíza desce usando um vestido preto.
Marco
sorri, malicioso.
CORTA
PARA
CENA 13 MANSÃO – SALA [INT.]
Raíza entra, ansiosa, procurando por Cael. Olha para trás e dá
com Marco na porta do escritório.
Ela
traja um vestido preto, de alças pretas transparentes e com um laço na cintura
cuja cauda vai até o joelho. Seus cabelos estão amarrados, com a mecha esticada
em diagonal sobre a testa. Uma maquiagem leve completa o visual.
MARCO (sorri e observa seu vestido):
Não foi com esse mesmo vestido que você foi à formatura de seu pai ano passado?
A
garota não lhe olha nos olhos, atenta para a escada.
RAÍZA: Não...E se fosse? Qual o
problema?
Marco
sorri.
MARCO: A empregada disse que você
queria falar com o Cael? Vem! Espere por ele no escritório.
A
garota reluta, anda na frente dele e entra no...
ESCRITÓRIO...
Marco
tranca a porta.
Raíza
se volta estranhando a cena.
RAÍZA: Por que trancou a porta?
MARCO (guardando a chave no bolso da
calça e sorrindo): Quero conversar com você...A sós.
A
garota avança na maçaneta e ele a segura pelo braço. Raíza olha aquela mão a
apertando. Desvencilha-se dele, assustada.
RAÍZA: Abra essa porta ou eu vou
gritar!
MARCO: Você tem medo de quê? (ele se
aproxima) Tem medo de ficar sozinha comigo?
Ela
aperta seu rosto e o afasta à força de si. Ele aperta seus braços novamente.
MARCO: O que você quer falar com o
Cael, hein? Está com pressa de quê?
RAÍZA: Aai! ‘cê’ tá me machucando!
Ele
sacode seu braço, nervoso.
MARCO: Hein? (ele a encara com olhar
vivo, fixos e perturbadores) Veio toda produzida pra ele...
RAÍZA: Me solta!
Ela
tenta gritar, mas ele tapa sua boca.
MARCO: Eu acho que você vai precisar
se arrumar de novo...
Ele
esfrega a mão em sua boca, a descabela toda com as duas mãos debaixo dos gritos
dela.
RAÍZA: PÁRA! ‘CÊ’ FICOU MALUCO?
Ela
vai andando pro lado, se desprende e cai sentada na poltrona.
Raíza
toca seus cabelos, desarrumados.
RAÍZA (sem acreditar): Por que ‘cê’
fez isso?
Marco
a puxa pelo braço, abre o armário, próximo da janela e a joga lá dentro.
RAÍZA: Ei! Pára com isso! Pára!
Ele tranca a porta e exibe um sorriso forçado,
nervoso, de lábios trêmulos.
MARCO: Não adianta você gritar...Não
se ouve nada do lado de fora.
Ele
sai e tranca a outra porta.
SALA...
LARA (O.S): Ah! É você, Marco?
Trancando o escritório?
MARCO (calmo): Ah...Mania
minha...Esqueço que não moro mais aqui...
ESCRITÓRIO
[INT.]
Raíza
está ao pé da porta, atenta.
RAÍZA: Melhor esperar ele sair...
Anda
até a janela.
[POV
de Raíza]
Ela
vê Marco caminhar. De repente, ele pára. Olha pra cima. Raíza desvia.
Torna
a olhar com cuidado.
RAÍZA (em OFF): Caramba! A Ari!
Apanha
a bolsa na mesa, retira o celular e disca.
APTº
403 – SALA [INT.]
Ari está ao celular, ao fundo, Cael e João conversam.
ARI: Raíza? Onde você tá? O Cael
veio aqui te buscar...
RAÍZA (V.O): Ari...Eu...(ouve-se um
bip)
INSERT
– visor do celular
Aparece
a mensagem ‘Bateria fraca’.
RAÍZA (murmura): Ameba de celular,
viu! (pausa) O jeito é correr!
A
tela se fecha num baque.
FADE IN
CENA 14 L.A HOUSE [EXT./NOITE]
Raíza aponta na calçada, de
frente.
Camilo
e Marco conversam com ares suspeitos.
Raíza
atravessa, espreita pelas paredes.
[ 6º Episódio – cena 7 ]
MARCO: Tudo certo pra hoje? (sorri
para quem entra).
CAMILO: Só ‘tô’ esperando o outro
chefe chegar...
Marco
olha o relógio.
MARCO: Ainda há tempo. Você sabe
como fazer, não é?
CAMILO: Tá tudo no esquema. Primeiro
irá começar na boate e em seguida o subsolo. Sendo assim, acho meio difícil o
seu irmão querer pular a janela naquelas alturas no escritório...
MARCO: Me poupe dos detalhes; Eu só
queria que respondesse sim ou não.
CAMILO: E aquele carinha lá? O da
família da Raíza.
Marco
faz cara de esnobe.
MARCO: Ele veio hoje de novo? (sorri
indiferente) O que tem ele?
CAMILO: Não é melhor dá um jeito de
despachá-lo?
MARCO: E por quê? Está com pena é?
CAMILO (cabisbaixo): É que...A moça
salvou a minha vida e...
MARCO: ...Mas ainda isso?! Eu pensei
que você já tivesse superado aquele dia.
CAMILO: Você sabe que pode poupar a
vida dele, ‘né’?
MARCO: Os negócios estão acima da
emoção, garoto.
CAMILO: Emoção, Marco? Você disse
‘emoção’?
Raíza
ouve, estupefata.
Um
carro se aproxima e a garota vê que é Cael quem está dirigindo.
MARCO: Ele não pode me ver aqui.
Marco
sai e vem na direção de Raíza. Esta vira rapidamente num vão da parede, Marco
passa e vai até seu carro. Raíza observa a placa e nota-se que ela lembra de
tê-lo visto antes.
Raíza
corre para frente da boate, mas não vê mais Cael.
Corta
para L.A HOUSE [INT.]
Dcr
estranha sua chegada, nada triunfal.
DCR: Pensei que não viesse mais...
A
garota observa as pessoas, o ambiente e tudo pareciam normais. O rapaz traja
uma camisa cinza de gola e calça jeans.
DCR (cont.): Nossa Raíza! Quem
você andou beijando que não te deu tempo nem de você se retocar?
Ela
esboça raiva, mas ele não nota. A conduz até o toillete.
DCR: Vá, antes que o Cael te veja
assim.
TOILLETE...
Raíza
entra relutante. Vira-se pro espelho e vê seu braço marcado pelas mãos de
alguém.
Close
no braço.
RAÍZA (em OFF): Tudo igual... Isso
eu não pude evitar...
Ouve-se
passos. A porta se abre e Rafaela entra, olha sem entender.
Não
há ninguém no banheiro.
RAFAELA: Mas o Dcr me garantiu que ela
estaria aqui...
CORTA
PARA
CENA 15 L.A HOUSE – ESCRITÓRIO [EXT.]
[1º plano]
A
cena entra pela porta fechada, pára. Raíza mira em um controle, tenta
apanhá-lo, mas Camilo surge e o faz primeiro.
Raíza
se mantém parada. Camilo abre a porta de correr e Raíza o segue, ainda
invisível.
Existe
outra escada de frente para aquela que dá ao cassino. Camilo desce e ao chegar
lá embaixo, ele atravessa a porta. Raíza se surpreende.
L.A
HOUSE – FUNDOS
Camilo
tira a tampa do lixo, e de dentro retira uma caixa. Coloca no chão, abre e
apanha um alicate. Quando levanta, Raíza está ao seu lado, mas ele não pode
vê-la.
Camilo
põe a mão no bolso, pega as luvas e as coloca nas mãos. Abre o sistema de
energia na parede.
RAÍZA
(em OFF): Ele vai causar um curto-circuito! É isso que ele vai fazer!
Camilo
direciona o alicate na caixa de luz.
Raíza
dá um tapa na mão dele, ouve-se o som de choque e os dois são jogados para
trás. A caixa de luz pega fogo.
O
rapaz está inconsciente. A garota se levanta, devagar.
RAÍZA (murmura): Será que ele tá
morto?
Ela
vê o controle no bolso dele, arranca e corre.
L.A
HOUSE [INT.]
As
luzes piscam, as pessoas continuam a dançar.
Alguém
toca os ombros de Raíza. Ela se volta, esbaforida.
RAFAELA: Nossa Raíza! Onde você
‘tava’? O Dc me disse...
Ouvimos
um estrondo. As pessoas se abaixam com o impacto. Ouve-se gritos.
RAFAELA: Meu Deus! O que foi isso?
Um
globo de luz explode, estilhaços atingem Raíza e Rafaela que caem pra trás.
VOZES: CORREM! CORREM!
RAÍZA: Vai, Rafaela! Corre!
Rafaela
se junta ao pessoal que se amontoam na porta de saída.
O
fogo começa a se espalhar. O controle de suas mãos cai e se perde naquela
confusão.
Tenta
caçar, mas é empurrada. A garota, então, se esforça e alcança uma cadeira. Pega
e arremessa contra o vidro. Não adianta. Então ela tenta mais duas vezes e
finalmente o vidro temperado se quebra.
Os
seguranças arrastam Raíza para fora da boate.
L.A
HOUSE [EXT.]
Ari corre na direção de Raíza.
ARI: Ai, Raíza! O Dcr! Ele ficou
lá dentro!
RAFAELA (O.S): Gente! Gente! Cadê o
Dcr?
Ari
se distrai.
ARI: Eu não sei, eu tô aqui com
a...(ela não vê mais a amiga) Raíza...
Corta
para L.A HOUSE – CASSINO [INT.]
Os frequentadores estão alterados, ninguém sabe
o que está havendo. Entre eles, Josué.
RAÍZA (em OFF): Eu já esperava por
isso...
Ouve-se
mais um estrondo, Raíza olha pra cima e o pedaço do teto desaba sobre a roleta.
Um aglomerado de gente se forma na porta de saída.
Pelo
buraco que se abre, Raíza vê Dcr passar. A garota se volta, olhando para o teto
quando este desaba.
Dcr
cai de uma altura de 3 metros nos braços da amiga. Ele se olha, muito assustado
e aparentemente suspenso no ar.
[1º
plano]
Com
um olhar denotando medo, ele não diz nada.
Olha
para cima e o fogo está se espalhando.
RAÍZA (em OFF): Será que eu consegui
evitar o futuro?
L.A HOUSE - BECO [EXT.]
Raíza deixa Dcr no chão e se
afasta.
[POV
de Dcr]
Ele
vê surgir a imagem de Raíza, nem consegue se levantar tamanho o susto.
Josué
aproxima e agacha-se.
JOSUÉ: Você se machucou? Que cara é
essa?
O
rapaz está extasiado demais para responder.
L.A
HOUSE – FRENTE [EXT.]
Raíza
nota que a multidão volta a atenção para outra cena. Aproxima-se e vê Valentina
caída na calçada com a cadeira bem próxima de sua barriga.
RAÍZA (murmura): Ai meu Deus! O que
eu fiz?
Ela
anda de costas, apressa e corre, desesperada.
FADE
OUT
FADE
IN
CENA 16 MANSÃO [EXT./NOITE]
A cena se aproxima de Raíza, sentada na
calçada, mãos sobre os joelhos, desolada da vida.
RAÍZA (aflita): E se ela perder o
bebê? E se ela morrer?...Como vou ficar?
Um
carro pára rente a ela. Ouve-se a porta se abrir, passos na direção dela.
Alguém a faz se levantar.
MARCO: Como foi que você saiu? Como
foi que você saiu, hein?
RAÍZA: Me solta!
Ele
ainda a puxa fazendo-a cair sobre seu peito. Os dois cruzam olhares e a garota,
lacrimejando, o empurra, de repente.
RAÍZA: Não pensou que aquela droga
de armário fosse fácil de abrir?
MARCO: Mas...
RAÍZA: Eu pulei a janela!
MARCO: E está chorando por quê? Não
conseguiu salvar ninguém hoje?
Raíza
o encara com raiva expressa em seus olhos. Sua aparência é de pura fadiga.
Cabelos desgrenhados, maquiagem borrada e o vestido chamuscado pelo fogo.
RAÍZA: Você é um infeliz! Um dia
você vai pedir pra ser salvo e não vai ter ninguém, ninguém! pra salvar um
monte de merda que é você!
Marco
fecha a mão, mas imóvel, contém a vontade de estapeá-la. Aquelas palavras soam
tão fortes que aquele sorrisinho malicioso dele dá lugar a uma expressão de
medo como nunca sentiu na vida.
FADE OUT
FADE IN
CENA 17 ED. CIRANDA
DE PEDRA [EXT.]
Raíza caminha pelo meio-fio tentando ajeitar os
cabelos, sem sucesso. Pára diante do edifício e não se mostra com muita vontade
de entrar. Volta e leva um susto.
RAÍZA: Aai! Se quer me matar mata
logo! Não fica me dando susto!
CIPRIANO: Desculpe. Mas é que vim ver
como você estava. Você sumiu da boate desde que...
RAÍZA: Desde que...?
Ele
finge preocupação.
CIPRIANO: Você sabe (pausa) A
Valentina...
RAÍZA: O que tem ela? Fala logo,
Cipriano! (ela esboça um sorriso tenso)
Ela não morreu não, ‘né’?
Cipriano
faz suspense para atormentá-la mais.
CIPRIANO: Não...Mas a criança que ela
esperava...
Raíza
tapa a boca, espantada.
CIPRIANO: Eu estive no hospital agora
pouco... E o Dcr quase foi levado pra lá também...
RAÍZA: O Dc? Ué, mas por quê?!
CIPRIANO: Parece que ele está em estado
de choque...O que será que pode ter havido?...
Raíza
dá as costas, receosa.
CORTA
PARA
CENA 18 HOSPITAL [EXT.]
QUARTO
[INT.]
Valentina, deitada na cama de hospital, abre os olhos. Diante
dela, está Cael a olhando com um sorriso estremecido. Ela acarinha a barriga e
se aflige.
VALENTINA: E o meu filho?...E o nosso
filho, Cael? Ele tá bem, ‘né’? Ele tá bem?
Cael
acaricia suas mãos e ela os afasta, de repente.
VALENTINA: Eu não gosto desse tipo de
resposta.
CAEL: Calma, Valentina...
VALENTINA (altera): Como você pode me
pedir calma? Um vândalo joga uma cadeira em cima de mim e você me pede calma?
CAEL: Valentina, as coisas não
foram assim; Se o vidro não fosse quebrado, muita gente teria morrido.
VALENTINA (trinca os dentes, chora): O
nosso filho morreu, Cael! (grita) Morreu! E você vem tentar me consolar por que
um povinho sobreviveu? (ela bate com as mãos na cama) Parece que você não tá
nem aí!
A
enfermeira entra no quarto com uma ampola nas mãos.
ENFERMEIRA: Por favor, a paciente não pode
se alterar. O estado dela é...
VALENTINA: DE PENA, EU SEI! EU SEI QUE PERDI UMA CRIANÇA! NÃO VAI ME
LEMBRAR DISSO TODA HORA, CARAMBA!
ENFERMEIRA (para Cael): Poderia nos dar
licença? Ela precisa repousar.
Cael
sai do quarto, fecha a porta e dá com Marco e Lara no corredor. Marco toca seu
ombro.
MARCO: Não fica assim, meu irmão
(finge, cinicamente). Outros virão...
Cael
olha pro lado onde a mão de Marco pousa sobre seu ombro. O clima é certo.
CAEL (sorriso de desconsolado):
Como fico feliz em receber seu apoio... ( ironiza, se voltando para a mãe) A
senhora tá feliz também? Afinal, o meu grande empreendimento foi pelos ares.
LARA: Você não está achando que...
CAEL: Não...Claro que não (ele mira
no irmão) Acho que a senhora ainda não chegou a esse ponto...
Marco
tira a mão do ombro dele.
MARCO: Alguém mais saiu ferido?
CAEL: Poucos. Parece que o único
que saiu pior dessa história, além do meu bolso (desconfiança) foi justamente o
causador de tudo isso...
Cael
espera ver a saliva do irmão escorrer pela goela abaixo antes de dizer o nome.
CAEL: Camilo.
MARCO: Camilo? Mas como?
CAEL: Ele foi encontrado nos fundos
da boate, com luvas e algumas ferramentas...E desacordado. Segundo a polícia,
ele levou um choque ao provocar o curto-circuito...
Marco
suspira fingindo condolências.
MARCO: Camilo era tão jovem...Tinha
um futuro pela frente e faz uma bobagem dessas...
CAEL: Camilo é jovem...Ainda.
MARCO: Ele...Ele está vivo?
CAEL: Em coma, Mas...O que me
intriga é por que ele faria uma coisa dessas?
Marco
mantém a calma a um ponto, como sempre, irritante.
MARCO: Será que ainda era por aquela
vez em que ele foi acusado injustamente?
CAEL (desconfiado): Será?
CORTA
PARA
CENA 19 ED. CIRANDA DE PEDRA [EXT.]
APTº
403 – QUARTO [INT.]
Raíza ajeita a roupa ao lado da cama. Ao fundo,
Ari a observa de braços cruzados, ar criterioso.
ARI: Seu sonho, pelo jeito, se
realizou.
RAÍZA: Ah...Ahn...Coincidência.
ARI: Você não acredita em
coincidências, Raíza. (ela caminha e a contorna) Você acredita em fatos.
Raíza
olha de canto, continua a ajeitar sua roupa.
RAÍZA: Na verdade nem se realizou;
No sonho eu morria. Muita gente morria.
ARI (desconfiada): Ainda bem que
você evitou, ‘né’?
Raíza
a encara, disfarça, torna a dobrar a roupa.
RAÍZA: Não foi bem assim...
ARI: E como foi? Tô louca pra
saber.
Raíza
larga a roupa na cama, aborrecida.
RAÍZA: O que é, hein Ari? O que é
que você quer saber?
ARI: Eu só quero que você me
responda desde quando prevê o futuro.
Raíza
se assusta.
ARI (cont.): É assim que você tem
evitado certos acidentes?
Raíza
não responde, surpresa.
CORTA
PARA
CENA 20 APTº 403 – SALA [INT./MANHÃ]
Bruno abre a porta e dá com Dcr com sorriso
estremecido.
DCR: Bom dia! A Raíza?
Vozes
alteradas vêm do corredor.
JOSUÉ (O.S): Disseram que você que
quebrou o vidro da boate...(tom acusador) E acabou atingindo a namorada de
Cael...É verdade?
RAÍZA (O.S): Eu não quero ter que
falar sobre isso...
JOSUÉ (O.S): Você tem idéia do que
provocou? Aquela moça podia ter morrido! Já pensou se fosse o João?
Dcr
e Bruno se entreolham.
DCR: Ahn...Não é assim sempre,
‘né’?
RAÍZA (O.S): Você não tá preocupado
em como eu ficaria, ‘né’ tio? E sim, em como você ia encarar as pessoas como
tio de uma assassina.
JOSUÉ (O.S): Não foi isso que eu
quis dizer...
RAÍZA (O.S): Foi isso sim! Você nem
perguntou se eu tô bem...Não tá nem aí, ‘né’? Se todos tivessem morrido ainda
sim estariam me culpando. (ela surge no corredor) Como se eu tivesse obrigação
de ajudar os outros!
Raíza depara-se com Dcr e Bruno ao pé da porta.
RAÍZA (sorri, temerosa): Dcr! Tudo
bem com você?
Os
dois se abraçam, Dcr a olha, admirado e feliz. Não sabe nem o que dizer.
Bruno
faz um sinal para Josué e este, mesmo bronqueado, sai.
Raíza
e Dcr andam até o sofá e ele senta. Raíza senta na mesa central de frente pra
ele.
RAÍZA: Soube o que houve. Você tá
bem? Não sofreu nada?
DCR (sorri, sem jeito): Estou vivo
(pausa) O futuro não aconteceu.
Raíza,
receosa, teme perguntar.
RAÍZA: O futuro?
DCR: É. Estava escrito que isso ia
acontecer. Você sabe.
Ele
a olha estranho e ela sorri, nervosa.
RAÍZA: Eu sei?
DCR: Meu pai não te contou? Ele
sonhou que eu ia correr perigo e eu não dei ouvido.
RAÍZA: Ah! (risos de alívio) Claro,
claro. Eu lembro...
DCR: Que bom que ele tinha certeza
de que eu ia escapar, não é?
Raíza
sorri para ele e depois nota a presença de Ari, de braços cruzados, à soleira
do corredor. As duas se olham em cumplicidade.
FADE
OUT
FADE
IN
CENA 21 L.A HOUSE [EXT./MANHÃ]
Tocando: One – Simple Plan
Cael está sentado no meio-fio de frente para a
boate queimada. A cena se aproxima e pára ao seu lado. Cael vira o rosto e só
olha para os pés da pessoa.
CAEL: Veio contemplar o que sobrou
do meu grande empreendimento?
Raíza
senta ao seu lado meio que sem saber o que dizer.
RAÍZA: Do jeito que fala parece até
que eu desejei isso...
CAEL: Foi o que me deu a entender
ontem...(ele a encara) Agora eu não tenho mais nenhum negócio ilícito...
Raíza
recebe aquilo como uma ofensa, mas se contém.
RAÍZA: Desculpe.
Ela
levanta, faz que vai embora, mas Cael segura sua mão.
CAEL: Desculpe; Você não tem culpa
de nada. Fique aqui.
Raíza
reluta, porém o olhar dele parece que é o que a convence a ficar.
Ela
senta, dobra os joelhos e os envolve com as mãos. Os dois olham para a boate.
RAÍZA: E o que pretende fazer agora?
Cael
suspira.
CAEL: Vou seguir sua sugestão (ela
olha para ele sem entender e ele sorri) Recomeçar.
Bate
um silêncio.
CAEL: Ontem você queria falar
comigo? A Ari me disse...
RAÍZA: Ah...É...Eu queria pedir
desculpas por ontem cedo...Era isso.
CAEL: Você não me deve
desculpas...Eu é que devo. Você não tem culpa pela má conduta de uns.
Ela
sorri meio sem jeito. Ele também.
CAEL: Eu não quero que se sinta
culpada por ontem...
RAÍZA (se adianta): Eu juro que eu
não queria – eu – eu não tinha como saber...
CAEL: Ela está bem...A Valentina
está bem...Mas não é dessa vez que serei pai.
Ele
nota seu desalento e toca suas mãos que ela desprende das pernas deixando ser
tocada por ele.
CAEL: Você fez o que era certo. Não
tinha como prever o que ia acontecer.
RAÍZA (desconversa): E já sabe quem
foi?
CAEL: Camilo é suspeito, mas
enquanto ele estiver em coma...
RAÍZA: Em coma? (receosa) Ele pode
morrer?
CAEL: Você parece preocupada.
Ela
disfarça, desprende as mãos das dele.
RAÍZA: Peguei um certo temor de
hospitais e...Saber que um conhecido está lá me dá arrepios.
Ele
sorri, contempla a preocupação da moça, admirado. Em seguida, olha para baixo,
desanimado. Exibe aquele sorriso de quem não está acreditando no que está
vivendo.
CAEL: De repente, descubro que
ninguém era o que eu pensava ser...Todas as pessoas em quem eu confiava ao meu
redor...Ninguém existia.
Raíza
levanta a mão e mexe os dedos, sorrindo.
RAÍZA: Olha eu ainda tô aqui.
Eles
riem.
CAEL: Você sempre está aqui...(ele
disfarça e olha para a boate) Prejuízo grande.
RAÍZA: Você só perdeu a boate;
Imagine todas aquelas pessoas naquele estado (aponta para a boate).
CAEL: Você pode não gostar, mas
cheguei numa conclusão.
Ela
se mostra curiosa.
CAEL: Você não existe!
Os
dois riem. Ele a envolve em um abraço ao mesmo tempo em que a cena vai virando
e, ao longe, Marco observa a cena com um olhar sinistro...
A
cena vai se afastando...
FADE
TO BLACK
FIM DO EPISÓDIO
Autora:
Cristina Ravela
Elenco:
Raíza (Maria Flor)
João Batista (Caio Blat)
Bruno (Juan Alba)
Josué (Caco Ciocler)
Cael (Michael Rosenbaum)
Marco (Pierre Kiwitt)
Rafaela (Fernanda Vasconscellos)
Ari (Nathália Dill)
Dcr (Aaron Ashmore)
Valentina (Alinne Moraes)
Cipriano (Thiago Rodrigues)
Participação Especial:
Lara (Jane Saymour)
Camilo (Sérgio Marone)
Daniel (ZéCarlos Machado)
Trilha Sonora:
One – Simple Plan
Produção:
Bruno Olsen
Cristina Ravela
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
REALIZAÇÃO
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