Marcelo Delpkin
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Cena 1/Int./Escola/Sala de Aula/Noite.
Liz está na entrada da sala, encarando Juliana e Fábio, que se aproxima de Liz.
FÁBIO
Liz/
Liz dá um tapa no rosto de Fábio, Juliana se assusta.
LIZ
(brava) Você não vai falar nada! Porque eu vi! Eu vi você beijando a Juliana!
Fábio coloca a mão no rosto, encara Liz, inconformado.
FÁBIO
Ai! Porque você me bateu? Eu não fiz nada!
LIZ
Ainda por cima é cínico!
JULIANA
(sem jeito) Liz... Realmente, o Fábio não fez nada, eu que fiz, aproveitei que ele estava distraído e beijei ele.
FÁBIO
Ta vendo aí! Agora bate nela e não em mim.
JULIANA
Não precisa partir para a agressão também.
Liz cruza os braços, está nervosa.
LIZ
Ah não? Você sabe que o Fábio é comprometido.
JULIANA
Eu sei... Mas/
LIZ
Mas nada, você agiu errado, eu achei que você era uma pessoa de respeito, mas vejo que não é bem assim.
JULIANA
Ai ta bom, não precisa ficar dando sermão... Foi só um beijo, só isso.
LIZ
(ri debochada) Só um beijo? Você acha que beijar o namorado de outra pessoa, não tem problema?
FÁBIO
Liz, vamos pra casa, já foi mesmo, pra que ficar aqui jogando conversa fora?
Liz dá um tapa no ombro de Fábio.
LIZ
E você cala a boca! Não se mete.
FÁBIO
(com a mão no ombro) Quer parar de me bater! Eu não fiz nada.
JULIANA
Acho melhor os dois irem embora, a escola vai fechar.
LIZ
Eu já estou indo, mas que uma coisa fique bem clara: Namorado não é igual aplicativo de carro compartilhado, eu não divido com ninguém, entendeu?
JULIANA
Entendi.
LIZ
Ótimo, vamos embora, Fábio.
FÁBIO
Eu só vou pegar/
LIZ
(séria) Agora.
FÁBIO
(irritado) Tá bom, madame!
Fábio sai, Liz encara altiva Juliana. Sai. Juliana suspira com raiva, pensativa.
JULIANA
Não sei o que ele vê nessa Liz, mulherzinha chata.
Cena 2/Int./Mansão Camargo/Sala/Noite.
Clarice está sentada no sofá, Kira entra preocupada.
KIRA
Por que uma ambulância saiu daqui?
CLARICE
Um acidente terrível com o Renato.
KIRA
(preocupada) O que aconteceu?
CLARICE
Renato estava de saída, arrumando umas coisas no porta-malas do carro, ele deixou o carro ligado, e de alguma forma o carro veio de ré para cima dele, e pelo jeito ele está muito mal.
KIRA
E você está plena assim?
CLARICE
Não vou chorar por alguém que não vale a pena.
KIRA
Sei...
CLARICE
E como foi na delegacia?
KIRA
Eu fiz a coisa certa, falei a verdade, que Alex matou a Ângela.
CLARICE
Corajosa Kira, mas estúpida. Se Alex é tão perigoso quanto está mostrando ser, agora você pode ser o próximo alvo dele.
KIRA
Eu sei e é por isso que vou voltar para a minha cidade, não tenho mais nada que fazer aqui.
CLARICE
Que pena, eu já tinha me acostumado com você aqui.
KIRA
Antes de ir eu preciso falar com a Liz.
CLARICE
Vai falar o que com ela?
KIRA
É um assunto pendente, só isso.
Cena 3/Int./Dia Seguinte/Casa de José/Sala/Dia.
José entra com a ajuda de Lúcia. Amanda e Gabriel se aproximam alegres.
GABRIEL
Pai! Que bom te ver em casa.
JOSÉ
Oi, filho, é ótimo ter voltado, não gosto de hospital.
AMANDA
E quem gosta né?
LÚCIA
O pai de vocês voltou, mas ainda precisa descansar, vou levar ele pro quarto.
JOSÉ
Que quarto o quê, eu vou ficar aqui na sala.
LÚCIA
Deixa de ser teimoso, Zé! O médico mandou você descansar.
JOSÉ
E qual a diferença de ficar no quarto olhando pra cima, e ficar aqui na sala olhando pra cima também? Nenhuma, e é por isso que vou ficar aqui na sala.
LÚCIA
(brava) Mas nem mula é teimosa assim!
GABRIEL
(ri) Pai, fica um pouco no quarto, vai por mim, eu sei que repouso para quem teve um infarto é algo muito importante.
JOSÉ
(orgulhoso/sorri) Ai, já tá falando igual médico.
AMANDA
Agora você vai para o quarto?
JOSÉ
Tá, eu vou, mas pouco tempo hein.
LÚCIA
O tempo que o médico mandou, vamos logo.
José e Lúcia vão para o quarto.
Cena 4/Int./Hospital/Quarto de Renato/Dia.
Renato está dormindo, a enfermeira está colocando soro para ele, o médico entra. Renato acorda aos poucos.
MÉDICO
Renato, como está se sentindo?
RENATO
Péssimo... Dói quase tudo.
MÉDICO
Você se lembra o que aconteceu?
RENATO
Lembro... Aquela desgraçada... Me atropelou.
O médico e a enfermeira se olham rapidamente.
MÉDICO
De quem o senhor está falando?
RENATO
Da Clarice, ela deu ré e me atropelou.
MÉDICO
A informação que nós temos é que o senhor estava arrumando algumas coisas no porta-malas, e o carro estava ligado/
RENATO
Doutor... A menos que tivesse espíritos ali, não tinha como o carro dar a ré sozinho, a Clarice entrou no meu carro, e deu a ré.
MÉDICO
É melhor avisarmos a polícia.
RENATO
Faz isso, eu tô doido para a aquela desgraçada se ferrar.
Cena 5/Int./Mercadinho/Apartamento de Fábio/Dia.
Liz está se arrumando, batem na porta. Liz abre, fica brava ao ver Kira.
LIZ
(brava) Eu não acredito que você veio até aqui!
KIRA
Eu preciso falar com você.
LIZ
Mas eu não quero te ouvir, eu preciso resolver um assunto importante, então sai daqui.
KIRA
Liz, eu vim em missão de paz.
LIZ
Paz com você é impossível.
KIRA
É sobre o Maurício/
LIZ
(tom alto) Sai daqui!
KIRA
Ele não queria ficar comigo!
LIZ
(séria; presta atenção) O quê?
KIRA
Ele não queria ficar comigo, Liz, eu vivia atrás dele e aproveitei uma oportunidade, e consegui ficar com ele, mas não conseguia ter o Maurício só pra mim, o tempo todo ele só falava de você, o quanto estava arrependido.
LIZ
Por que isso agora?
KIRA
Porque eu estou voltando para a casa, Liz, e me arrependi de ter aumentado as coisas pra você... Na noite que ele morreu, ele estava decidido a contar tudo pra você, ele tinha terminado comigo.
LIZ
(pensativa) Ele queria me contar uma coisa, mas não deu tempo.
KIRA
Era isso, o Maurício iria te contar sobre o nosso caso e pedir perdão.
LIZ
Como se fosse fácil perdoar algo assim...
Kira pega as alianças que Liz deu a ela, coloca na na mão de Liz, para ela segurar.
KIRA
Maurício te amava, Liz, eu queria que o amor dele fosse meu, mas era impossível com você no caminho... Isso é seu, ele não merece ser odiado por algo que nem teve culpa, eu o tempo todo fiquei atrás dele... Era isso... Até um dia, Liz.
Kira sai. Liz chora olhando as alianças.
Cena 6/Int./Casa de Josivaldo e Denise/Sala/Dia.
Denise abre a porta, se surpreende ao ver Clarice.
DENISE
(espantada) Mamãe! O que você está fazendo aqui?
Clarice entra, olha a casa com desprezo.
CLARICE
Vim ver você... Francamente, Denise, como você pode trocar nossa casa por esse barraco.
DENISE
Não é um barraco, e se você não gosta, pode ir embora.
CLARICE
(sorri um pouco) Nossa, como você mudou.
DENISE
Não mudei, mas cansei de ouvir suas ofensas.
CLARICE
Vamos sair desse buraco, vamos conversar em um lugar decente.
DENISE
Não posso, tenho que preparar o almoço.
CLARICE
Credo, Denise, você realmente vai virar uma dona de casa, ou melhor, de barraco?
Josivaldo entra, estranha a presença de Clarice.
CLARICE
(debochada) Fred Flintstone chegou, corre Wilma! Vai pegar os chinelos pra ele. (ri).
DENISE
(nervosa) Para com isso, mamãe!
JOSIVALDO
Deixa ela, Denise, quem sabe essa cobra não morde a língua e morre com o veneno.
CLARICE
Meu veneno só atinge gentinha, igual a você.
JOSIVALDO
(nervoso) Eu não sou obrigado a aturar isso!
CLARICE
Então deixa a minha filha! Ela não merece uma vida miserável dessa!
DENISE
(aflita) Não é nada disso, mamãe! Para com isso.
JOSIVALDO
(alterado) Você acha que eu gosto de ver a minha mulher aqui? Não! Mas um dia vou dar uma vida boa pra ela.
CLARICE
(ri) Quando? Na terceira idade?
JOSIVALDO
(alterado) Eu amo a Denise, e agora ela é minha mulher!
CLARICE
Eu faria qualquer coisa para se divorciarem.
JOSIVALDO
Qualquer coisa?
CLARICE
O que você quiser, é só falar.
JOSIVALDO
(pensativo; nervoso) Se é para a Denise ter a vida que ela merece, eu topo! Mas quero tudo ali, no branco e no preto, assinado e documentado!
Denise chora.
DENISE
(inconformada) Josivaldo!
Josivaldo pisca para Denise, sem Clarice ver, Denise não entende muito bem, fica mais calma.
CLARICE
Como será esse acordo?
JOSIVALDO
Eu quero uma quantia em dinheiro, que é o suficiente pra eu estudar, e quando voltar caso com a Denise de novo.
CLARICE
Eu faço acordo, se você sumir, nunca mais voltar!
JOSIVALDO
Você dá o quanto eu pedir?
CLARICE
Se não voltar mais... Sim.
JOSIVALDO
Feito! Hoje mesmo vou lá no cartório e fazer esse documento.
DENISE
Vocês não podem fazer isso!
CLARICE
É para o seu bem, Denise.
Clarice, sai, Josivaldo ri. Denise está brava, sem entender.
DENISE
Pode me explicar, que show foi esse?
JOSIVALDO
Meu amor, agora eu vou ajudar a dona Liz!
DENISE
(sorri um pouco) Como assim?
JOSIVALDO
Ela não precisa da assinatura da sua mãe?
Denise entende, sorri, abraça Josivaldo.
DENISE
Meu amor! Você foi um gênio, a minha mãe vai assinar o tal acordo.
JOSIVALDO
E vai assinar o que a dona Liz precisa, eu vou lá pedir o documento para o Fábio, e se ela voltar aqui, você finge que tá triste.
Josivaldo beija Denise, sai. Denise sorri, com esperança.
Cena 7/Int./Delegacia/Sala/Dia.
O delegado traz Alex algemado para a sala.
ALEX
Por que me trouxe aqui?
DELEGADO
Uma pessoa quer falar com você, antes de ser transferido, senta aí.
ALEX
Não quero.
Liz entra, Alex a encara.
ALEX
Veio rir da minha cara?
LIZ
Não, vim conversar. (ao delegado) O senhor pode nos deixar a sós um instante?
DELEGADO
Tudo bem, mas a porta está sendo vigiada.
O delegado sai.
ALEX
O que você quer?
LIZ
A tecelagem de volta.
ALEX
(gargalha) Nunca.
LIZ
(sorri) Alex... Eu não quero ser baixa como você e ter que apelar.
ALEX
Apelar para o que, sua cretina?
LIZ
(sorri; altiva) Você está sendo preso por ter matado a Ângela, o que já serão uns bons anos de prisão, mas e se essa pena aumentar? O delegado não sabe que você matou o meu pai e o meu marido naquele incêndio criminoso... O delegado não sabe que você roubou dinheiro da tecelagem, e o delegado não sabe que você e seus amigos tiraram tudo de mim com aquele contrato, mas pode ficar sabendo.
ALEX
(sério) O que você quer?
LIZ
Eu já falei, quero a tecelagem de volta, e basta apenas a sua assinatura aqui. (Liz, mostra um documento para Alex) Na anulação do contrato.
ALEX
Você tem muita coragem, Liz... Sabe o que eu sou capaz de fazer e mesmo assim veio me enfrentar.
LIZ
Você está preso, não é mais perigo para ninguém.
Alex ri, debochado, pega a caneta que Liz deu junto com o documento, assina a anulação, empurra a folha para Liz, a encara frio, com raiva.
ALEX
É aí que você se engana, irmãzinha, eu não vou ficar muito tempo na prisão, matei uma cadela vira lata... E quando sair de lá, eu vou me vingar de você.
Liz disfarça, finge não estar assustada.
LIZ
Você vai ter tempo de sobra para refletir sobre seus atos na prisão, com licença.
Liz vai saindo.
ALEX
(tom alto) Você vai virar cinzas, Liz, igual o seu papai e seu marido.
Liz sai apressada, Alex ri.
ALEX
Não vai sobrar nada dessa vez, irmãzinha, nem tecelagem, e nem você... Puf, vai virar cinzas. (ri).
Fim do Capítulo
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