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FADE IN
Vários jornais são jogados numa mesa com as seguintes notícias em destaque:
“Ônibus entra na contramão e provoca acidente na Ponte Rio-Niterói – Motorista usava remédios controlados”
“Acidente com dois carros na Ponte Rio-Niterói, deixa 6 mortos, e um sobrevivente”
“Jovem que sofreu acidente respira com ajuda de aparelhos”
ÂNCORA DE UM TELEJORNAL: A polícia está investigando o caso, mas há a suspeita de sequestro relâmpago.
FADE OUT
FADE IN
CENA 1 COFFEE BREAK – ESCRITÓRIO [INT. / MANHÃ]
Legenda: Três meses depois
Um jornal preenche a tela com a notícia: “Um jovem que sofreu, recentemente, um atentado numa estação de trem, era rival de Danilo Rodrigues e acusado pela morte de sua esposa”.
VALENTINA (O.S): Hmmm, você agora não larga mais esses jornais hen.
O jornal é retirado da nossa frente.
Valentina,
com cabelos em corte diferente e mechas maiores, se senta, toda sem
modos.
Marco, com algumas cicatrizes no rosto, dobra o jornal e
põe sobre a mesa.
MARCO: Mais uma dessa tal de Lila Machado. Qualquer dia ela descobre o que Danilo fez ou deixou de fazer na última reencarnação.
VALENTINA: Ignore. Ela só tá fazendo o papel dela de fofoqueira do mundo dos milionários. Que polícia vai dar ouvidos ao que ela escreve? É só mais uma frustrada bancando a jornalista investigativa. Tenho dó.
MARCO: Que seja. (Marco se levanta) Tenho coisas mais importantes para tratar.
VALENTINA: Vai visitar a Rainha louca?
Marco contorna a mesa e se aproxima de Valentina.
MARCO: Raíza não é louca. Eu, no lugar dela, teria feito quase a mesma coisa. Com um pouco mais de estratégia, claro.
VALENTINA: Então eu posso esperar que vai rolar uma vingancinha contra seu amado irmão, não?
Marco vai até a poltrona onde está sua maleta.
MARCO: Sabe que, a Raíza estar internada, vai me ajudar muito, em certo ponto. Tenho que admitir que o Josué deu um tiro de misericórdia em meus planos.
VALENTINA: Em pensar que até então a garota tinha que se preocupar com você.
Em Marco, incomodado. Ele apanha sua maleta.
MARCO: (disfarça) Eu não saí de cena, querida. E nem desisti de meus planos. (ele toca os ombros de Valentina, por trás) Rafaela já foi eliminada (em Valentina, inquieta), e Dcr será o próximo, assim que acordar do coma e nos disser onde ele deixou as provas contra mim.
VALENTINA: Melhor você tomar cuidado, Marco. Depois de ser alvo de investigação pela morte de Ari não acho legal o Danilo aparecer morto. Ainda mais com essa jornalista de quinta colocando ele como herói.
MARCO: Eu já esclareci que nada tive a ver com aquele assassinato. E quanto à jornalista, vamos ignorá-la, não é? (Em Valentina, incomodada) Afinal, ela não espera que heróis vivam para sempre.
Ouvimos
o telefone tocar.
Marco atende.
MARCO: Sim? (tempo / irônico) Ah, claro...Que alegria imensa saber disso. Obrigado.
Marco desliga, olha para Valentina, e faz um suspense básico.
MARCO: (irônico) Acho que o nosso querido Danilo está com as horas contadas...
Em Valentina, forçando o sorriso.
CORTA PARA
CENA 2 FACHADA – HOSPITAL CENTRAL [MANHÃ]
Corta para o interior / Sala de espera
Expectativa em Diva e Helena diante do médico.
HELENA: (desejando o pior) Ele vai ficar com alguma sequela, doutor? A gente pode vê-lo agora?
MÉDICO: Ainda
teremos que fazer alguns exames...
Cipriano espreita, sendo
observado por Cael.
CAM atravessa os corredores rapidamente, enfermeiros e pessoas comuns passam por ali, até que a CAM para pelas costas de uma enfermeira. A enfermeira se volta; É Valentina, preocupada em não ser vista.
Valentina olha Dcr pelo vidro, que também a vê.
CORTA PARA
CENA 3 UTI – HOSPITAL CENTRAL [INT. / MANHÃ]
Valentina entra usando uma máscara de médico.
VALENTINA: Olá bonitão. Bem-vindo à vida...
Dcr, de cabeça raspada, a encara, estagnado.
VALENTINA: (retira a máscara) Você ainda deve se lembrar de mim, então serei breve: (Valentina se aproxima da cama) Onde estão as provas contra o Marco que você e a Rafaela roubaram?
Dcr continua encarando-a, com medo.
VALENTINA: O que é? Não vai responder? Tem 3 meses que você tá enfurnado nessa cama, mas você pode ficar muito mais. E então?
Dcr faz que vai dizer algo, tem dificuldade.
VALENTINA: Fala logo, imbecil! Eu não tenho o dia todo.
DCR: Eu/ Eu não/ Eu não sei...
VALENTINA: Não se faça de desentendido, garoto. Se tu não disser pra mim, vai dizer pro Marco, e eu te garanto que será bem mais doloroso.
Dcr se
agita, tenta levar o braço até uma campainha dependurada.
Valentina
puxa sua mão com força, sem paciência. Cara a cara.
VALENTINA: (raiva) Pra quem acabou de acordar do coma você tá bem agitadinho. Anda! Não faça joguinhos comigo, responde direito!
Ouvimos
um barulho, Valentina olha para a porta, assustada, e põe a máscara
no rosto.
A porta é aberta e um médico, uma enfermeira e Cael,
este também usando uma máscara, adentram.
MÉDICO: Acredito que ele irá evoluir bem...
Valentina abaixa a cabeça, disfarça.
CAEL: (para Dcr) Danilo, que bom te ver bem.
Cael toca sua mão, e Dcr tenta retirar, com medo e meio ofegante. Cael se assusta. Dcr olha a todos, sem entender.
CAEL: Danilo, tá tudo bem? Tá sentindo alguma coisa?
DCR: Quem/ Quem é você? (choque nos demais / se agita) Quem são vocês? (p) Quem são vocês?
Em Cael e Valentina surpresos.
A tela se fecha num baque.
RODA DA FORTUNA
SEGUNDO ATO
FADE IN
CENA 4 UTI - HOSPITAL CENTRAL [INT. / MANHÃ]
Dcr conversa com Cael e o médico. Uma enfermeira troca o soro.
DCR: Três meses? Eu to aqui tem três meses?
CAEL: Eu tenho certeza de que com o tempo você irá se lembrar de tudo. Qual é a sua última lembrança?
Dcr pensa um pouco.
DCR: Eu lembro que eu estava...Eu estava numa boate, isso. Lembro de ter visto fogo, de um assalto. Eu...Eu fui atacado...É isso? Eu fui atacado, é por isso que eu to aqui?
MÉDICO: Você está tendo lapsos de memória. (para Cael) A família já me contou de várias situações pelas quais seu amigo passou. (para Dcr) Você sofreu um acidente de carro durante uma perseguição.
DCR: Perseguição? O que aconteceu, Cael?
CAEL: Isso é o que a polícia quer descobrir, mas terá que esperar sua completa recuperação para pegar seu depoimento, já que...(Dcr espera, ansioso) Você foi o único sobrevivente.
Em Dcr, angustiado.
DCR: Você não...(olha para a enfermeira / torna a encarar Cael) Você não tá dizendo que...Tinha mais gente comigo?...É a Ari? (tensão / tenta se levantar) Cadê a Ari? Eu quero ver a Ari, me deixa ver a Ari!
A enfermeira e o médico o deitam novamente.
MÉDICO: Calma, ela não estava com você, calma! (Dcr respira ofegante)
DCR: Eu conheço esse olhar. Vocês tão mentindo pra mim. Onde ela tá?
CAEL: Se ela estivesse com você eu não poderia mentir por muito tempo, Danilo. O acidente foi notícia em todos os jornais e canais de TV. A imprensa está em cima.
DCR: (atordoado) Me traz ela aqui e eu vou acreditar em você.
Cael, o médico e a enfermeira se encaram, cúmplices.
CORTA PARA
CENA 5 CORREDOR – HOSPITAL CENTRAL [INT. / MANHÃ]
Cael e o médico se afastam, Helena os interpela.
HELENA: Doutor, como tá o meu sobrinho? Ele vai ficar bem?
MÉDICO: Ele apresentou um quadro de memória seletiva/
HELENA: (corta) Ele tá com amnésia, é isso?
Cael nota seu interesse.
MÉDICO: Memória seletiva é uma amnésia parcial, onde o paciente oculta tudo que lhe foi trágico após algum trauma e, é capaz de esquecer de pessoas que de certa forma, estavam envolvidas com o trauma em questão. Podemos dizer que, temporariamente, ele viverá do passado.
Helena faz que entende, e Cael observa sua satisfação.
CORTA PARA
CENA 6 HOSPITAL CENTRAL [EXT. / MANHÃ]
CIPRIANO: (deboche) Ainda acho estranho ver você de pé. Está difícil acostumar.
JOÃO: Graças a sua grande ideia de induzir a Raíza, me colocando naqueles trilhos, não? Incrível como você sempre consegue ferrá-la.
CIPRIANO: Vem cá, por acaso a sua imaginação aflorou depois do susto que você levou? (João não gosta) Não é bom fazer acusações, ainda mais depois de responder a um processo.
JOÃO: Eu já deixei claro pra polícia que a gravação que Raíza fez com a minha suposta confissão foi apenas uma brincadeira. E a polícia não vai acreditar numa louca, não é?
CIPRIANO: Que sorte você tem, hen? Mas as investigações sobre a morte de Ari não terminaram, não. A polícia já descobriu que havia uma terceira pessoa no local do crime. Basta uma pista e (faz um som de faísca) eles chegam ao assassino.
JOÃO: E o que eu tenho a ver com isso? A polícia já desconsiderou o depoimento da Raíza. To limpo.
CIPRIANO: Da Raíza sim, mas uma pessoa mais lúcida...
JOÃO: Eu não sei quem seria tão louca quanto ela a ponto de me acusar. Eu jamais mataria uma pessoa.
E João dá as costas.
CIPRIANO: A gente jamais cometeria algum crime, até que somos postos à prova.
João olha para trás, sério. Cipriano vai embora.
CORTA PARA
CENA 7 RECEPÇÃO – HOSPITAL CENTRAL [INT. / MANHÃ]
João Batista vem com aquela cara de enfezado, mas logo disfarça quando avista Cael.
CAEL: Eu tenho notado que você nunca visita sua prima. Na verdade, nem mesmo o Josué.
JOÃO: (indignado) Você anda seguindo a gente, é isso? Se eu fosse você eu manteria a distância. To te dando uma dica, aproveita que é de graça.
João vai saindo.
CAEL: Vocês a está mantendo em cárcere privado, com nome diferente para que ela não receba a visita dos amigos, não é?
João volta, todo armado.
JOÃO: Que amigos, Cael? Uma já morreu, o outro fica nesse chove não molha neste hospital, o pai dela...(vacila) Ela não tem amigos, Cael.
Os dois se encaram, sustentando um ar de melancolia.
CAEL: Pelo menos contou sobre o pai dela?
JOÃO: Meu tio não quis contar tudo pra não atrapalhar a recuperação dela.
Cael disfarça um riso debochado, de quem não acredita.
CAEL: E vocês querem que ela se recupere?
JOÃO: (raiva) E se for o caso? Eu fui a vítima, ok? Até a coitada da Joana tá respondendo a um processo por negligência, e tudo por causa de quem? Por causa da Raíza. Você devia estar do meu lado. Nós dois não temos parentes tão amigáveis quanto gostaríamos ter.
CAEL: Deve ser por isso que você se uniu a Marco para me derrubar, não? (João engole a seco) Não caí na história de que ele estava ameaçando sua família. Ele tinha alguma informação sua, e você teve medo dele compartilhar com mais alguém.
JOÃO: Você deve conhecê-lo melhor do que eu. Sabe o quanto ele consegue ser persuasivo. Deve ser de família.
Cael se aproxima, toca o terror.
CAEL: Sim, conheço bem. E você percebeu que quando algo o atrapalha ele faz de tudo para descartar, não é?
Em João, calado. Cael sai de cena.
CORTA PARA
CENA 8 UTI – HOSPITAL CENTRAL [INT. / TARDE]
Ouvimos sons de máquina. Nenhum enfermeiro, nem médico. Dcr está dormindo, faz movimentos involuntários com os dedos, quando, de repente, acorda. Mantém os olhos acesos, e num efeito digital, CAM adentra em seus olhos.
CENA 9 FLASHBACK
IGREJA [INT. / FIM DE TARDE]
DCR: Eu sei que é clichê a noiva se atrasar, mas você não acha melhor ligar pra Raíza ou pro seu Bruno?
JOÃO (O.S): Eu já tentei, (João Batista aparece ao lado de Dcr com aquele sorrisinho besta) mas já pensou se a Ari desistiu?
FIM DO FLASHBACK
Nesse momento, a cena continua, mas de um modo diferente.
JOÃO: Já pensou se ela não vem? E se ela não vier? (Dcr estranha) Ela não virá, e você sabe disso.
Dcr se desespera.
DCR: De novo, não... De novo, não!
Dcr corre por entre os convidados, que se assustam, mas dão passagem.
Assim que SAI da IGREJA,
Dcr para rapidamente. Notamos que o cenário é outro e que Dcr se vê diante de um edifício, onde, no mesmo instante, Ari despenca de uma das salas. Dcr corre, desesperado, atravessa a estrada.
DCR: Não, eu não vou deixar isso acontecer de novo. ARI!
FIM DA CENA EXTERNA
FUSÃO PARA
CENA 10 UTI – HOSPITAL CENTRAL [INT. / TARDE]
ENFERMEIRA: Pensei que estivesse dormindo de olhos abertos.
FADE IN
CENA 11 FACHADA - HDM CONSTRUTORA [TARDE]
Corta para um dos corredores
VALENTINA: Marco, preciso falar contigo.
Marco espia a secretária, que só observa a cena.
MARCO: (para Valentina) Algum problema no café, querida?
Valentina saca a cara de curiosa da secretária.
VALENTINA: Algo que só você pode decidir o que fazer.
Marco faz que entende.
CORTA PARA
CENA 12 ESCRITÓRIO – HDM CONSTRUTORA [INT. / TARDE]
Marco adentra a sala e, Valentina logo atrás, fecha a porta.
MARCO: Você realmente não podia ter me esperado chegar no café?
VALENTINA: É que a coisa é grave.
Marco contorna a mesa e senta na cadeira.
VALENTINA: Danilo perdeu a memória.
Marco se surpreende.
MARCO: Não pode ser...(pensa) Apaga de uma vez.
VALENTINA (assustada): Não! Tá maluco?
MARCO: Não tenho paciência para memórias fracas. Se ele perdeu a memória, que perca a vida também.
Valentina quase soca a mesa de nervoso.
VALENTINA: Eu não sou assassina, Marco! E também ele é a única pessoa que pode saber onde estão as provas contra você.
Marco, mão apoiada no rosto, debocha enquanto ela fala.
VALENTINA: O que foi? Tá rindo do quê?
MARCO: De você. Você é tão engraçada... Acha mesmo que eu ia mandar matá-lo? (Em Valentina, sem graça) Preciso dele bem vivo, já que a outra traidora resolveu dar o ar da graça no inferno.
Valentina se inquieta, disfarça.
VALENTINA: E o que você pretende fazer?
MARCO: Esse trauma deve ser temporário. Essas coisas que acontecem quando se acorda do coma.
VALENTINA: (debochada) E você já esteve em coma, Marco?
MARCO: Nem todo mundo é igual a você, minha querida. Eu leio jornais.
VALENTINA: Ah, é, esqueci da sua tara por jornais ultimamente...
Marco ajeita uma papelada, enquanto encara Valentina com ar de dEboche.
MARCO: De qualquer maneira, é bom ficar atenta. Essas perdas de memória pós coma nem sempre são completas, e, muitas vezes, são retroativas. Ainda não sabemos do que, e de quem ele se lembra.
Em Valentina, chateada.
CORTA PARA
CENA 13 CORREDOR - HOSPITAL CENTRAL [INT. / TARDE]
CAM segue João Batista e Josué caminhando, enquanto conversam.
JOSUÉ: O médico disse alguma coisa sobre a perda de memória do Danilo? Ele não se lembra de nada mesmo?
JOÃO: Só da família e da Ari.
JOSUÉ (curioso): Pelo visto ele vai voltar com as investigações, não é? (sarcasmo) Aposto como ficará radiante em saber que Víctor Leme ganhará liberdade condicional.
JOÃO: Duvido que ele vá se importar...
JOSUÉ: Por quê? O que você sabe?
JOÃO: Danilo não se lembra que Ari morreu.
Josué para, surpreso. João faz o mesmo e os dois ficam diante da porta do quarto 406.
JOSUÉ: Ele acha que Ari tá viva? Em que época exatamente ele parou?
JOÃO (solta os ombros): Acho que muito antes de se casar com ela, ou...Talvez do momento em que os dois casariam. Não sei.
JOSUÉ: Quer dizer que ele esqueceu da Raíza...
JOÃO: Falando nisso, o Cael anda seguindo a gente. Acha mesmo conveniente não contar pra ninguém onde ela está?
JOSUÉ: (fingido) E deixar que contem sobre o pai dela?
Josué abre a porta. João vem atrás e adentra ao
QUARTO 406.
JOSUÉ: Acho que não vai fazer bem ela saber do pai agora...
Em clima de suspense, a cena nos revela Bruno dormindo, com um tubo de soro.
CORTA PARA
CENA 14 FACHADA - HOSPITAL CENTRAL [MANHÃ DO DIA SEGUINTE]
Corta para o interior do QUARTO 501
Dcr, dormindo, torna a fazer alguns movimentos com as mãos de forma estranha. Acorda subitamente e ofegante, mas logo respira aliviado. Ao olhar para os lados se assusta com a presença de uma moça negra, olhos verdes, sentada numa poltrona. Ela traja uma camisa branca de manga ¾, saia de couro preta e um sapato de bico fino.
DCR: (defensiva) Quem é você? O que quer aqui?
A moça se levanta, calmamente.
MOÇA: Parece que você teve um pesadelo. (dá a mão) Meu nome é Dalila. Doutora Dalila Moura.
Dcr cumprimenta, receoso.
DCR: Veio dizer que eu to de alta? Porque eu acho que eu já passei muito tempo aqui.
DALILA: (sorri) Não. Eu sou psicóloga do hospital. (hesita) Fui chamada para lhe ajudar a recuperar a memória, pois os médicos acreditam que o seu esquecimento é psicológico, não tem nada a ver com o acidente.
DCR: O que significa que logo logo irei recuperá-la sem ajuda de psicólogo. Não gosto de psicólogo, não me leve a mal. Não lido bem com isso.
DALILA: Quanto mais cedo você exercitar a memória, mais cedo você a recupera totalmente.
DCR: Não quero lembrar...Acho que eu to bem assim.
DALILA: Ok...Talvez então, você queira conversar sobre seus pesadelos...
DCR (assustado): Que pesadelos?
DALILA: Toda pessoa que acorda de um coma pode adquirir uma espécie de...Experiência, sabe?
DCR: (finge / incomodado) Não, não sei.
Dalila toca sua mão. Dcr só observa.
DALILA: Meu tio passou por isso. Ele despertou de um coma de seis meses e, foi algo...(esboça tristeza) ...Foi algo perturbador.
DCR: Ahn...Ele enlouqueceu?
DALILA: Você não ia acreditar...
DCR: Eu não acredito que perdi a série Foley Boys, mas enfim, perdi.
Dalila ri.
DALILA: (olha ao redor) Eu vou confiar a você uma coisa que meu tio, até o último dia de vida dele só revelou a mim. (p) Meu tio passou a ter visões.
Em Dcr, estupefato.
DALILA: (joga) Não é fácil lidar com um dom quando ninguém acredita em você, não é?
Dcr, abismado, olha curioso para a bela garota.
CORTA PARA
Uma rua qualquer, foco em uma lanchonete.
CENA 15 LANCHONETE [INT. / MANHÃ]
Um pequeno movimento, bem organizado, bonito, pessoas no balcão, outras sentadas.
HOMEM#1: Não acredito que você mandou essa, Lila? Ok que a história dele é fantástica, tem mil pessoas envolvidas, mas ele é só mais um milionário nas estatísticas. Surpresa seria se ele fosse pobre e pedissem resgate.
O cara, moreno, barba por fazer, está sentado. Ele traja uma camisa azul listrada, calça jeans, e sustenta óculos de aros pretos.
HOMEM#1: Essa tua mania de buscar realismo em suas histórias ainda te garante um processo, escuta. Pelo menos seu plano arriscado deu certo?
LILA (O.S): Você ainda acha que eu jogo pra perder, Roger? (CAM revela Dalila, a falsa doutora) Ele falou pouco, mas já dá pra garantir uma matéria pro jornal e pro novo livro.
ROGER: (balança a cabeça negativamente / ri) Você não presta.
Close no sorriso sacana de Lila.
CORTA PARA
CENA 16 COFFEE BREAK – ESCRITÓRIO [INT. / TARDE]
VALENTINA: E aí?
Marco para de brincar com o estojo e a entrega.
VALENTINA: O que é? Presentinho pra mim?
Valentina abre e se surpreende ao ver uma seringa.
MARCO: Sabe aquela velha história de “recordar é viver”?
Fecha em Valentina, apreensiva.
QUARTO ATO
FADE IN
CENA 17 QUARTO 501 - HOSPITAL CENTRAL [INT. / NOITE]
O corte é feito diretamente nas pernas de Dcr sobre a cama. A mão usando luvas cirúrgicas brinca nos dedos de Dcr e vai passeando por toda a extensão. Até que, ao chegar na cintura, Dcr segura subitamente na mão misteriosa e abre os olhos.
DCR: (tenso) Você de novo.
A enfermeira abaixa a máscara cirúrgica e revela ser Valentina.
VALENTINA: (maliciosa) Senti saudades.
SONOPLASTIA: Suspense
CORTA PARA
CENA 18 TÉRREO - HOSPITAL CENTRAL [INT. / NOITE]
Cael adentra pela porta de vidro causando olhares nas enfermeiras. Cael segue até o balcão.
ATENDENTE: Ah senhor Bedlin, o doutor Carrilo já está a sua espera.
Cael sorri.
A cena começa numa luta entre Dcr e Valentina.
Dcr segura no braço de Valentina onde está uma seringa e os dois fazem força contra.
VALENTINA: Não vai doer nada, garoto! É só uma injeçãozinha pra você voltar a se lembrar.
DCR: Eu decido se quero me lembrar ou não!
VALENTINA: Vem cá, eu ainda não terminei com você!
...E Valentina é surpreendida quando Dcr se volta e lhe acerta um tapa de esquerda. Valentina não cede fácil e pega Dcr pelo braço, o arremessa contra um frigobar fazendo o garoto bater com a cabeça.
Assim que Dcr cai no chão, ainda consciente...
O AMBIENTE SE TORNA SUJO E MAL ILUMINADO. O cenário é o mesmo de quando Dcr foi jogado num galpão no 2x20.
GALPÃO [INT. / NOITE]
Helena, encapuzada, acende o isqueiro deixando Ari nervosa.
ARI: O que vai fazer?
MARCO: Isso vai depender de você.
ARI (entrando em desespero): Por favor, Marco, você não é tão ruim assim...
DCR (O.S): Ele É ruim!
MARCO: PEGUEM ELES!
GALPÃO [EXT. / NOITE]
Ouve-se um TIRO.
Ari começa a se cansar e Dcr tenta segurá-la, mas os dois caem.
DCR: (abraçado a ela) Não, Ari, não faça isso de novo.
Dcr observa sua mão suja de sangue. Ari está ferida nas costas.
ARI: Eu vou ficar bem, eu vou ficar bem...
DCR: Não, não!
Dcr olha para Marco e seus capangas.
MARCO: Eu não queria ter feito isso. Você me obrigou.
Dcr acaricia o rosto de Ari, que o encara, já morta.
DCR: Ari, não...Eu preciso que você esteja aqui...
FUSÃO PARA
QUARTO 501 - HOSPITAL CENTRAL
Dcr VOLTA A SI, deitado no chão, vai abrindo os olhos.
DCR: Eu não quero te perder de novo, Ari...
E Dcr se vê diante de uma Valentina atordoada, atenta a sua última frase e com a seringa a postos, dando a entender que injetou no pescoço de Dcr.
VALENTINA: Você não esqueceu dela.
E Valentina se afasta, enquanto Dcr tenta se levantar, preocupado.
VALENTINA: Só dela que você se lembra...Só dela...
FADE IN
CENA 20 HOSPITAL CENTRAL – FACHADA [NOITE]
Corta para o interior da CAFETERIA
CAEL (O.S): Marco precisa contratar pessoas diferentes para servir de mensageiro (Valentina ignora / Cael se senta a sua frente). Mas faz o tipo dele ser cara de pau mesmo.
VALENTINA: Cael...Se você perdesse parcialmente a memória, de quem você acha que se lembraria?
CAEL: Como? Ficou impressionada com o que aconteceu com o Danilo?
VALENTINA: Me responda. De quem você acha que se lembraria?
Cael a observa com olhar de lamento, realmente preocupada. Ele segura um celular sobre a mesa onde há a foto de Raíza.
CAEL: Não sei...Talvez de alguém que eu amasse muito, alguém por quem me sentisse culpado por não ter feito nada para ajudar de verdade.
VALENTINA: E o que é amar pra você? Certamente é algo que você nunca fez por mim, não é?
Cael a olha, pensativo.
CAEL: Quando você sentir medo de perder alguém e perceber que sua vida só tem sentido ao lado dela... (pausa / em Valentina, quieta) Quem sabe você não descubra?
MARCO: O que ele queria com você? Ele te viu no quarto do Danilo?
VALENTINA (ignora): Marco, alguma vez você teve medo de me perder?
Marco acha graça, sem entender.
MARCO: Que pergunta/
VALENTINA: Responda. Já teve medo de me perder?
MARCO: Ora, querida, você sempre está aqui, não?
VALENTINA: Entendi.
E ela sai, chateada.
Marco observa, sem nada entender.
CORTA PARA
CENA 21 QUARTO 501 – HOSPITAL CENTRAL [INT. / NOITE]
DCR: Eu sonho com ela...Sonho que ela morreu nos meus braços. (olha para Cael) Falem a verdade. (sofrido) Ela não tá bem, não é?
DIVA: Filho...(se esforça) Eu...Eu realmente queria esperar que você recordasse...
HELENA: Fala logo, Diva! Que agonia.
DIVA (segurando nas mãos de Dcr): Olha, Danilo, no dia do seu casamento...
Ela continua a falar, mas não ouvimos.
====== TOCANDO: Late Goodbye – Poets Of The Fall ======
A CAM vai se afastando, enquanto Dcr começa a chorar, e é abraçado pela Diva.
Cael abaixa a cabeça, compadecido. A enfermeira chora, comovida. O médico permanece frio e, Helena, revira os olhos.
FUSÃO PARA
CENA 22 APTº 403 – QUARTO DE RAÍZA [INT. / NOITE]
Josué está diante de uma penteadeira desarrumada, com porta-retratos revirados. Sua imagem refletida no espelho é de uma pessoa esboçando vitória. Até que Josué pega uma foto de Bruno ao lado de Raíza, e fica olhando como a admirar.
De repente, rasga, dividindo a imagem.
JOSUÉ: Em breve...
Os pedaços caem...
CAM busca João Batista escorado no CORREDOR, desconfiado.
FUSÃO PARA
CENA 23 REDAÇÃO [INT. / MANHÃ]
[POV de Lila]
“O efeito borboleta na vida de um jovem milionário”.
Lila abre o jornal, afoita, e para na coluna “Lila Machado no Jet-set”.
LILA (lendo): “Após acordar do coma, Danilo Rodrigues, que sofreu um grave acidente na ponte Rio-Niterói está de volta à vida, mas apresentou um quadro de amnésia bastante curioso. Segundo o próprio paciente seus pesadelos são tão reais que ele tem a sensação de poder mudar o que acredita que já passou. É o nosso Ashton Kutcher da vida real, meninas?”.
Lila sorri, vibrante.
FUSÃO PARA
CENA 24 CEMITÉRIO [INT. / MANHÃ]
Legenda: Dias depois
Chove pouco. Ouvimos o sino tocar.
Há uma pequena movimentação. Dcr, trajando terno preto e capa protetora, segura uma rosa branca, enquanto caminha para perto de um túmulo. Cael e Diva seguem logo atrás com um guarda-chuva. Helena, de óculos escuros, chateada da vida, vem mais afastada, igualmente protegida por um guarda-chuva.
Ao longe, se esgueirando, está Lila Machado e seu parceiro, Roger, tirando fotos.
CORTA PARA
CENA 25 APTº 403 – QUARTO DE RAÍZA [INT. / MANHÃ]
Em Josué juntando todas as fotos rasgadas e jogando num saco preto.
CORTA PARA
CENA 26 CEMITÉRIO [INT. / MANHÃ]
Dcr se levanta, ergue a cabeça, de olhos fechados, e se deixa molhar pela chuva.
CENA 27 APTº 403 – QUARTO DE RAÍZA [INT. / MANHÃ]
FUSÃO PARA
CENA 28 CLÍNICA PSIQUIÁTRICA NOVO HORIZONTE [INT. / MANHÃ]
[Continua o efeito câmera lenta]
CENA 29 JARDIM - CLÍNICA PSIQUIÁTRICA NOVO HORIZONTE [INT. / TARDE]
O CENÁRIO nos remete ao episódio 1x10, cheio de árvores num extenso jardim.
ÉRICA: (olhar perturbado) Mais um dia aqui. Eu não te disse que ninguém viria te buscar?
Lentamente, nos é revelado Raíza, abatida, de cabelos curtos, trajando uma blusa branca, meio larga.
ÉRICA (O.S): Você não acredita.
Super close em Raíza, receosa.
FADE TO BLACK
FIM
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