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PRIMEIRO ATO
FADE IN
Vários takes do trânsito da cidade / Corta
FACHADA - CLÍNICA PSIQUIÁTRICA NOVO HORIZONTE [TARDE]
Close na placa “Clínica Psiquiátrica e de Recuperação Novo Horizonte”.
CORTA PARA
CENA 1 JARDIM – CLÍNICA NOVO HORIZONTE [TARDE]
Daniel
está sentado, cabisbaixo e pensativo.
Os passos se aproximam
vagarosamente.
DCR (O.S): Pensei que não fosse mais te ver.
Daniel se surpreende, levanta-se afobado e o abraça, um abraço apertado.
DANIEL: Filho! Meu Deus, quanto tempo! (cara a cara) Não sabe como rezei para te ver de novo, são e salvo.
DCR: (sorri emocionado) Eu sinto que acordo de um pesadelo todo dia, pai. Talvez medo de um dia acordar e perceber que meses se passaram de novo.
DANIEL: Vem, senta aqui, me conta tudo.
Os dois se sentam. Dcr olha ao seu redor, curioso.
DANIEL: Sua tia veio aqui dizer que você ficou com sequelas irreparáveis. Você parece bem.
DCR (desconfiado): Ela disse isso? (Daniel faz que sim) Digamos que anda acontecendo coisas comigo. Sabe quando você sonha com algo que já sonhou, sabe tudo que vai acontecer, e mesmo assim tenta mudar? Só que nada que você faça pode mudar o fim da história?
DANIEL: Com que tipo de sequela você realmente ficou?
DCR: Não sei o nome que se dá a isso exatamente, mas/
Ouvimos uma confusão. Dcr e Daniel se levantam, preocupados e veem Raíza, descabelada, escapar por um portão de ferro. Enfermeiros correm atrás.
RAÍZA: DCR! DCR!
Raíza encara Dcr, animada, e o abraça sem ser correspondida. Raíza desfaz o abraço, estranhando seu comportamento.
RAÍZA: Quando você saiu do hospital? Você veio me tirar daqui, não é?
Os enfermeiros seguram em seu braço, mas Raíza mede força.
RAÍZA: Me solta! Eu tenho que falar com ele!
Dcr olha para ela, sem esconder sua perplexidade. Olha para Daniel, que também está pasmo.
RAÍZA: Hen? Por que tá me olhando assim?
DCR: Desculpe, mas...Eu não sei quem é você.
Baque em Raíza. Algumas pessoas se aglomeram por ali.
ENFERMEIRO#1: Vamos, Sarah. Você tá assustando as visitas.
RAÍZA: Meu nome não é Sarah, (grita histérica) MEU NOME NÃO É SARAH!
Raíza faz força e tenta se segurar em Dcr, que se mostra aflito.
RAÍZA: ME TIRA DAQUI, ME TIRA DAQUI!
ÉRICA: Ele não vai te tirar daqui, sua boba! Ninguém vai te tirar daqui!
Raíza é arrastada pelos enfermeiros.
RAÍZA: NÃO! DCR, POR FAVOR!
Dcr vai se afastando, atordoado, e sai correndo.
RAÍZA: VOLTA AQUI!
Dcr arranca
seu crachá de visitante e joga para o porteiro, que abre o portão
imediatamente.
Dcr SAI
CENA 2 RUAS DA CIDADE
Esbaforido, Dcr começa
a apressar o passo.
Dcr agora está sob o ponto de vista de
uma câmera. Ouvimos alguns cliques.
Roger arruma a câmera e tenta posicionar novamente. Ele está dentro de um carro, com a cabeça para fora quando um rapaz, bem afeiçoado, e fora de suspeitas, arranca sua câmera e sai batido.
Roger sai do carro.
ROGER: PEGA LADRÃO!
Roger corre, muita ação, ruas bem movimentadas de carros.
Dcr,
do outro lado, assustado.
O bandido atravessa a pista perigosa e
passa voando por Dcr, que desvia rapidamente, olhando a direção
para onde ele foi. Ouvimos uma batida. Dcr se volta e Roger
cai sobre ele, ensanguentado. Os dois estão no chão. Dcr,
espavorido, tenta acudi-lo.
DCR: Eu vou chamar a ambulância, aguenta firme, cara.
ROGER: (balbucia) Me-me...A-Ajuda...
Dcr ali,
sem reação.
Roger suspira, e morre nos braços de seu
alvo.
Em Dcr, traumatizado.
FADE TO BLACK
EFEITO BORBOLETA
SEGUNDO ATO
FADE IN
ÂNGULO ALTO da cidade
Ouvimos sirenes de polícia e ambulância. Corta.
CENA 3 APTº 215 [INT. / TARDE]
A porta é aberta abruptamente e Dcr entra, angustiado, deixando a porta bater.
Dcr começa a ouvir vozes que se intercalam com outras vozes:
ROGER: (balbucia) Me-me...A-Ajuda...
ARI: [...] eu vou ficar bem. Eu vou ficar bem...
Dcr põe a mão na cabeça, não aguentando mais aquilo.
FLASHBACK
IGREJA [INT. / FIM DE TARDE]
Dcr se vê diante de um edifício, onde, no mesmo instante, Ari despenca de uma das salas. Dcr corre, desesperado, atravessa a estrada.
DCR: Não, eu não vou deixar isso acontecer de novo. ARI!
Mas não dá tempo; Ari despenca sobre o carro e rola para o chão.
FIM DO FLASHBACK
Dcr está com as mãos cobrindo a boca, horrorizado, e vê Ana e Helena encarando-o.
HELENA: O que aconteceu, Danilo? Seu pai surtou de novo?
Dcr
a olha com ódio.
Helena pega a chave sobre a mesa central.
HELENA: Não deve ter sido fácil pra ele saber tudo que você passou, não é?
ANA: (animada) Não vai me dar um abraço, priminho?
Dcr só encara Helena, parecendo não estar vendo Ana.
DCR: Por que você disse a ele que eu fiquei com sequelas irreparáveis?
HELENA: Ele te disse isso?
Dcr se aproxima, sem tirar os olhos de cima dela.
DCR: Espero que não esteja pensando em dizer que ele inventou.
Clima.
ANA: O que tá havendo, gente?
HELENA: Você tá com sequelas, Danilo? Porque você me parece ótimo.
Dcr lhe acerta um FORTE TAPA, assustando Ana. Helena se volta, cobrindo o rosto, e o encarando surpresa.
HELENA: Você tá maluco, garoto?
DCR: (firme) Vou dar ordens para que sua entrada na clínica seja vetada. Você não faz bem ao meu pai.
HELENA: Eu não fiz nada!
DCR: E é bom que continue assim.
E Dcr sai de cena.
Helena ali, bufando de ódio. Ana a abraça.
ANA: Eu nunca o vi agressivo desse jeito, mãe.
HELENA: Deve ser culpa do acidente dele, Ana. (olhar de ódio) Mas eu o perdoo.
FADE TO BLACK
FADE IN
CENA 4 RUAS DA CIDADE [TARDE]
Parte de um corpo coberto por um plástico preto. A medida em que uma mão masculina levanta o plástico, CAM sobe e revela Lila, tensa, para logo se mostrar triste ao ver Roger morto. O policial lamenta. Corta.
Muita movimentação, carros de polícia, ambulância e jornalistas se espreitando do outro lado da linha interditada, para tirar fotos. Por entre eles vem Hans, um sujeito bem alinhado, moreno, 30 e poucos anos, cara de cínico. Ele está agitado, segurando uma foto.
HANS: Lila, Lila! (Lila se volta segurando o choro) Olha quem foi a última pessoa que esteve com o seu amigo.
Lila, lacrimosa, olha para a foto.
[POV de Lila]
Na foto, Dcr está apoiando Roger no chão em seus últimos momentos de vida.
VOLTA EM HANS
Que discretamente deixa à mostra sua satisfação.
HANS: Parece que a sua obsessão pelo garoto levou seu parceiro à morte.
Lila se enche de raiva.
LILA: Quem tirou essa foto, hen Hans? Foi alguém da sua equipe, foi?
HANS: (cínico) Você sabia que existe um monte de gente que adora bancar a fotógrafo? Basta ter um celular.
LILA: Você tá adorando, né, seu monte de bosta?
HANS: Não me alegro com a morte das pessoas, minha cara. Mas eu vivo de notícia e você também.
LILA: Espero que você tenha no mínimo respeito pela morte de um colega e não invente uma matéria bombástica e mentirosa sobre a morte dele.
HANS: O que teria de mentirosa a notícia de que Roger tentava um furo para a sua coluna sobre o mundinho dos milionários, e que acabou morto nos braços de seu alvo? (em Lila, mantendo a calma) Vamos ser razoáveis, Lila. Eu aposto que se tivesse morrido alguém da minha equipe você faria a mesma coisa, não?
Lila
o encara. Hans deixa a cena com ar de superioridade.
Lila
observa a foto, chateada.
Corta
Ruas da cidade / Área do Colégio França
CORTA PARA
CENA 5 COLÉGIO FRANÇA - SECRETARIA [INT. / TARDE]
Ambiente
mal iluminado. Close na mesa com alguns papeis, pastas e um suporte
para canetas.
Cael está de costas, espiando a janela pela
fresta da persiana.
CIPRIANO (O.S): Desculpe a demora. (Cipriano segura uma pasta e mantém um óculos no bolso da camisa) Não me disseram que tinha gente importante me esperando.
Cael se volta, mãos nos bolsos da calça, faz que está despreocupado.
CAEL: Talvez se dissessem o nome do meu irmão, não?
Cipriano observa aquela alfinetada, põe a pasta sobre a mesa.
CIPRIANO: O que te trouxe em meu humilde trabalho?
CAEL: Marco (Cipriano o observa de soslaio e se senta). Tive a oportunidade de conhecer o seu lado mago através dele. Você deve se lembrar bem. Ele ficou furioso com uma poção que você o fez tomar.
Cipriano retira o óculos do bolso e o coloca no rosto.
CIPRIANO: Ah, você veio atrás de uma poção?
Cael se aproxima e apoia as mãos sobre a mesa.
CAEL: Vim atrás de uma resposta. (p) O que o Marco realmente queria com você? Por que ele te procurou?
CIPRIANO: Talvez pela mesma razão que você (os dois se encaram). As pessoas são curiosas, meu caro. Amam o oculto, mas desprezam as consequências.
CAEL: Marco pode ter algumas excentricidades, mas ele não te procurou para prever o futuro dele ou para tomar uma poção. Ele jamais faria qualquer coisa se não fosse por um motivo nobre.
CIPRIANO: (sempre escorregadio) Você não tem um motivo nobre?
Cael o encara e se afasta já cansado daquela enrolação.
CAEL: Raíza está presa numa clínica por obra dele e de Josué, e você que parecia sempre por perto, não fez nada até hoje, por quê?
CIPRIANO: Talvez porque assim como você eu não sei onde ela está (Cael bufa, sem acreditar). Eu não sou vidente, Cael e vou te dizer uma coisa: Mesmo que eu soubesse não poderia ajudar com as minhas poções, (mente) porque não surtiria efeito em mim. Já ouviu falar que as pessoas que têm um dom, não podem usá-las a seu favor?
CAEL: (sarcasmo) Eu pensei que quem tivesse dons, não precisaria de poções.
CIPRIANO: E o que você sabe sobre isso? Você é que nem seu irmão; (incita) Precisa experimentar para crer.
Cael torna a colocar as mãos sobre a mesa, inclinando o corpo para a frente.
CAEL: É uma sugestão?
CIPRIANO: (dá de ombros) Talvez você tenha mais sorte do que o Marco.
Os
dois se encaram; Cipriano se mostra sagaz;
Cael, confiante.
CORTA PARA
CENA 6 CORREDOR - CLÍNICA NOVO HORIZONTE [TARDE]
João caminha receoso, olhando para os lados e para as pessoas que ali transitam. Cada um com um olhar estranho, algumas pessoas fitam João; Outras parecem nem vê-lo.
João para diante de um portão de ferro. Um enfermeiro abre e João entra, tenso. O portão é fechado.
Close na inscrição da porta: “Pavilhão A”.
CORTA PARA
CENA 7 PAVILHÃO A - CLÍNICA NOVO HORIZONTE [INT. / TARDE]
João vai se aproximando, temeroso, sem encarar os pacientes. O enfermeiro aponta para uma porta de número 201. João assente.
Corta para o interior do QUARTO 201
O
quarto está vazio. João caminha vagarosamente e vê duas camas
arrumadas.
Suspense. Por trás de João, a porta do banheiro se
abre, e dela, Raíza sai esboçando ódio.
Tensão
em João.
Ao se voltar, toma-se de tal susto que cai sentado na
cama.
RAÍZA: (ar de deboche) Quanto tempo, João. Veio ver o buraco onde seu tio me enfiou?
João
a encara, absorto ainda pela sua aparência e pelo ambiente.
Raíza
caminha pelo quarto, indiferente.
RAÍZA: Pensei que você não ia ter coragem de conferir de perto o lugar onde a Ari também passou um bom tempo da vida dela. (João a fita, se mostrando abalado) Sabia que pode ter sido nesse quarto onde ela dormiu?
JOÃO: (finge que não ouviu) Você sabe que tá aqui porque quer.
RAÍZA: Eu não lembro de ter vindo pra cá com as minhas próprias pernas, João.
JOÃO: Eu to falando dos seus poderes, Raíza!
RAÍZA: (firme) Meu nome não é Sarah? Não é esse o nome que o seu tio me deu pra ninguém descobrir o meu paradeiro?
João encara Raíza.
RAÍZA: Vocês
me jogaram nessa ala de pacientes perigosos para que nem o pai do Dcr
me visse. Cê sabia que a gente só pode ficar no jardim quando todos
os outros já tiverem saído?
João se levanta.
JOÃO: Você escolheu isso pra sua vida, Raíza. Mas você pode sair daqui a qualquer momento, e é isso que eu não entendo. O que tá acontecendo contigo?
RAÍZA: Vai ver eu quero pagar por ter tentado te matar, ué.
João avança e sacode seus ombros, com raiva.
JOÃO: Para com essa palhaçada! Essa calma não combina com você. (p) Três meses, e parece que você não tem feito nada para sair daqui.
RAÍZA: Você só veio saber por que a cruz que você tanto cobiça não tem salvado a minha vida, não é? (p)Eu não posso. Eu não consigo. (cara a cara) Todo dia eu sou surpreendida com uma injeção de calmantes. E todo dia eu volto a ser aquela garota que levava uma vida normal, e que achava que o único problema da minha vida era a matemática.
João solta de seus ombros, meio chocado, mas ainda se mostra arrogante.
JOÃO: Esse é o preço que se paga por tentar dar uma de justiceira, tomando conta da minha vida. Desperdiçou seus poderes, deixou a Ari morrer, em troca de provar a minha culpa naquele incêndio. Você tem ideia do que fez?
RAÍZA: Você deve repetir isso várias vezes pra si mesmo para se convencer de que não teve culpa também, não é? (João segura o remorso) Cê quer saber? Talvez você tenha razão. Passei tempo demais desperdiçando meus poderes por conta de uma coisa chamada justiça. Talvez se eu não tivesse tido pena de te denunciar mesmo naquela cadeira de rodas, talvez eu não estivesse aqui. (João já lacrimeja, de raiva e de remorso) E você me conhece muito bem, não é?
JOÃO: Eu não devia nem ter vindo.
João
nem se despede, abre a porta e sai.
Raíza lacrimeja, aborrecida
pelo seu destino.
CORTA PARA
CENA 8 CORREDOR – PAVILHÃO A [EXT. / TARDE]
João
está escorado na porta, disfarçando a raiva. Ele finalmente olha
para os outros pacientes, vai andando, forçando a coragem, até se
aproximar do portão de ferro.
Uma enfermeira loira, de uns 45
anos, passa por ele. João dá uma olhada rápida para a bandeja na
qual ela segura e onde contém uma seringa, mas apressa o
passo.
Érica surge diante de João, toda sorridente.
ÉRICA: Você é amigo da Raíza?
JOÃO: (medo / não sabe o que responder) Anh...Sim, mas...Eu tenho que ir agora.
Érica segura em seu braço, assustando-o.
ÉRICA: Espera! Não é educado sair sem cumprimentar.
Érica estende a mão e, mesmo receoso, João cumprimenta.
ÉRICA: Sou Érica, amiga dela. Somos companheiras de quarto, sabe. E você? Qual o seu nome?
JOÃO: João.
ÉRICA: Gostei de você. Sabe, eu não posso ir no quarto agora. Ela não deixa (Érica aponta para a enfermeira loira / João olha para trás).
JOÃO(curioso): E por que ela não deixa?
Érica passa a mão pelo terno de João, como quem ajeita.
ÉRICA (sussura): É que ninguém pode ver a Raíza sendo castigada por não querer contar o que eles querem saber (Érica toca o queixo de João, que nada faz). Mas ela não pode contar que tem poderes, não. Ninguém acredita.
João se mostra surpreso.
ÉRICA: Você tem olhos bonitos.
Um enfermeiro surge segurando em Érica.
ENFERMEIRO#1: Vamos, Érica. Tá na hora do seu lanche.
ÉRICA: Deixa eu levar o meu amigo.
O enfermeiro abraça a paciente
ENFERMEIRO#1: Ele tem que ir agora, querida.
ÉRICA: Volta amanhã, João.
E Érica é levada pelo enfermeiro.
João, curioso, volta para o corredor.
CORTA PARA
CENA 10 QUARTO 201 – CLÍNICA NOVO HORIZONTE [EXT. / TARDE]
A enfermeira está diante de Raíza, com um sorriso irritante, apertando a seringa como forma de testar. O crachá em seu jaleco traz o seu nome, Betty Tusset.
BETTY: Você já percebeu que não dá pra ser durona neste lugar, não é?
RAÍZA: Se eu tivesse algum tipo de dom eu já estaria longe daqui. Se o Marco quer saber de alguma coisa, manda ele perguntar pro Cipriano.
BETTY: Você não precisa passar por tudo isso, menina. Basta dizer o que significa uma cruz cravada em seu pulso e tudo será resolvido.
Raíza
fita a enfermeira, com raiva.
Corta em João, chocado.
A tela se fecha num baque
TERCEIRO ATO
FADE IN
Vista aérea da cidade à noite / Corta
CENA 9 APTº 215 – QUARTO DE DCR [INT. / NOITE]
Tela da TV exibe um noticiário.
ÂNCORA DO TELEJORNAL: A polícia já recebeu informações sobre o ladrão que roubou e causou a morte do fotógrafo Roger Ribeiro, do jornal “Carioca News”. Segundo testemunhas, o rapaz estagiava há 2 meses no jornal concorrente.
A TV é desligada. Dcr está sentado na cama, meio largado. Olha para Ana, que segura um controle, encarando-o com reprovação.
DCR: Eu tava assistindo.
Ana deixa o controle da tv sobre a mesa de cabeceira e senta na cama.
ANA: Eu não vou deixar que você se martirize pelo o que aconteceu. Não foi sua culpa que o cara morreu.
DCR: Mas eu não pude fazer nada. Tenho a impressão de que as pessoas vão me pedir ajuda, e eu nunca poderei ajudá-las, entende?
ANA: Ninguém tá pedindo que você salve o mundo, Danilo. Se você quer começar a fazer algo diferente, comece aqui em casa.
Dcr suspira e se levanta, desviando-se de Ana, que também se põe de pé.
DCR: Tá falando da tia Helena.
ANA: Cara, nunca te vi daquele jeito. Eu sei que você passou por tanta coisa difícil, e ainda tem seu pai/
Dcr se volta e segura em seus ombros, preocupado.
DCR: Ana, me escuta: Eu sei que você não vai acreditar em mim agora, mas eu preciso que você pense em tudo que eu vou te falar, ok?
ANA: Ai meu Deus, o que é?
DCR: Você sabe que eu sou o administrador daquela herança que eu recebi, não sabe? (Ana faz que sim) E que só com a minha morte que você tomará posse? (Ana faz que sim de novo) Mas também sabe que se eu morrer antes de você completar maioridade, é a sua mãe que tomará conta, não é?
ANA: Ai, Danilo, desenrola isso.
DCR: Eu já sofri três atentados, sendo que o primeiro não foi por defender a Ari. Você entende?
Os dois se encaram. Ana o observa, pensativa.
ANA: Cê não tá dizendo...? (Dcr continua a encará-la / Ana se afasta, arredia) Não, Danilo, isso não. Minha mãe pode ser meio prepotente, vive arregada naquelas ervas delas, mas daí a querer a sua morte?
DCR: Ela não é a pessoa que aparenta, Ana. Cê sabia que ela só visita meu pai para atormentá-lo? Ela dá falsas notícias, parece que sempre tá querendo vê-lo pior/
ANA: (irritada)Que tipo de falsas notícias, Danilo?
DCR: Meu pai disse que ela foi lá pra dizer que eu fiquei com sequelas irreversíveis/
ANA: E você não tá com sequelas irreversíveis, Danilo?
Dcr não sabe o que dizer e recua.
ANA: Você tá acreditando numa pessoa que vive há meses num hospício (choque em Dcr) e ainda tem falhas de memória e pesadelos acordado. Você não parece mais aquele cara de antes.
Dcr lacrimeja de raiva, como se estivesse com a garganta arranhando.
DCR: Eu não sou mais aquele cara de antes, Ana. Não teria como.
Em Ana, sem graça.
Corta para o EXT. QUARTO DE DCR
Onde Helena esboça ter escutado tudo. Insatisfeita, Helena sai de cena.
CORTA PARA
CENA 10 CLÍNICA NOVO-HORIZONTE - JARDIM [INT. / NOITE]
Um enfermeiro passa pela calçada que liga o jardim até a entrada para os pavilhões. Corta.
PAVILHÃO A [EXT. / NOITE]
Silêncio. Mãos abrem a porta de um quarto e duas pessoas, sendo uma de branco, adentra o local. A porta é fechada. Close no número 201 impresso na porta. Corta.
QUARTO
201 [INT. / NOITE]
Raíza está sentada na cama, encarando Marco
e a enfermeira Betty.
MARCO: E então? Acho que dei tempo o suficiente para você pensar, não é, minha querida? Já tem uma resposta para mim?
RAÍZA: Já, mas acho que não vai ser útil pra você.
MARCO: Tente.
RAÍZA: (raiva) Vai pro inferno, você e essa daí!
BETTY: Parece que a nossa paciente tomou gosto por esse lugar.
RAÍZA: Se quer saber de alguma coisa, vai perguntar pro Cipriano. Foi ele que me batizou com essa cruz no dia em que me atropelou.
A enfermeira, curiosa, ouve atenta.
RAÍZA (cont.): Sabe o que ele disse? Que essa era a forma de salvar a minha vida. Pronto! Quer tirar essa cruz de mim, tira! Não me importo de morrer não. (Marco vai ouvindo com cara de prostrado) Meu único amigo não sabe quem eu sou; Meu pai tá morto; Todos estão contra mim. Acho que não tenho mais nada a perder.
BETTY: Minha jovem, você tem um futuro pela frente. Você prefere ficar presa neste lugar a dizer o que ele quer ouvir, e poder se casar com um homem que poderá te dar tudo que você quiser?
RAÍZA: A minha vida antes de conhecê-lo ele nunca vai poder me dar.
Marco trinca os dentes e lacrimeja de raiva. Ele entrega uma pasta preta a Betty e, apoiado em suas mãos, abre a pasta e retira um papel.
MARCO: (entrega o papel a Raíza) Acho que você vai querer dar uma olhada nisso aqui antes de dizer que não tem mais nada a perder.
Raíza lê o conteúdo do papel e, atônita, levanta rapidamente.
RAÍZA: O que é isso? Que palhaçada é essa?
MARCO: Não está feliz de saber que o seu pai está vivo e se recuperando muito bem?
RAÍZA: Cê tá inventando isso pra me obrigar a fazer o que você quer. Meu pai tá morto. Morto!
MARCO: Quem te disse isso? Seu tio? (Raíza emudece) O mesmo que te trouxe a este lugar? Porque você se lembra que foi ele quem te trouxe aqui, não é?
RAÍZA: (sarcasmo) E você tá se doendo muito por isso.
MARCO: Tanto que vou lamentar se o teu pai souber onde você está. Acho que não fará bem para quem está se recuperando.
Raíza
se enche de ódio e parte pra cima de Marco. Marco segura seus
braços, enquanto Betty sai correndo.
RAIZA: Quando
eu sair daqui eu vou acabar com você!!
MARCO: Não sou eu teu inimigo!
Betty e dois enfermeiros adentram.
ENFERMEIRO#1: Mas o que tá havendo aqui?
Marco ainda mede força com Raíza que o encara, agitada.
MARCO: Ela surtou. Não quer acreditar ainda que o pai dela está morto.
RAÍZA: Mentira! Ele ameaçou matar o meu pai, cês têm que fazer alguma coisa! Cês têm que fazer alguma coisa!
Os enfermeiros seguram Raíza por trás que ainda luta, só que não tem jeito. Os enfermeiros dominam Raíza sobre a maca.
RAÍZA: Me solta! (para Marco) Eu devia ter deixado você morrer, infeliz!
...E
um deles injeta a seringa em seu braço, sob os gritos dela.
Marco
observa a cena, friamente. Betty sorri, cínica.
Em Raíza,
desfalecida.
CORTA PARA
Visão aérea da cidade / Corta
CENA 11 CURTO-CIRCUITO [INT. / NOITE]
Ouvimos tocar na boate Good Feeling – Flo Rida
Muita
movimentação, pessoas dançando, barman servindo os coquetéis,
muitas luzes pipocando no local.
Dcr caminha por entre as
pessoas, curtindo o som, até que olha para cima e vê Cael se
apoiando na grade. Cael faz um sinal e Dcr assente.
CORTA PARA
CENA 12 ESCRITÓRIO - CURTO-CIRCUITO [INT. / NOITE]
Dcr acaba de abrir a porta, entra e a fecha em seguida. Cael está em pé diante de sua mesa, arrumando alguma coisa.
CAEL: Era melhor você ter entrado pelos fundos; Você agora é alvo de jornais.
DCR: Desculpe. Quis olhar de perto o local onde Ari trabalhou. Ultimamente tenho tido um certo vício por noltalgia...
CAEL: Não disse pra ninguém que você estaria aqui, não?
DCR: Não (se aproxima). Você disse que era sigiloso.
Cael se volta segurando um pequeno frasco.
CAEL: Sigilo absoluto.
DCR: (desconfiado) O que é isso?
CAEL: A liberdade de uma pessoa muito querida para mim. Você acredita em poções da invisibilidade, Danilo?
Dcr
estranha.
Cael sorri, sagaz.
CAM se aproxima do rosto de
Dcr que esboça admiração.
CORTA PARA
CENA 13 QUARTO DE HELENA - APTº 215 [INT. / NOITE]
Quarto escuro. Ana dorme na cama, coberta por um edredom, até que ela abre os olhos. Meio zonza, ela se volta, mas não vê Helena na cama. Curiosa, Ana se prepara para se levantar.
CORTA PARA
CENA 14 SALA - APTº 215 [INT. / NOITE]
De costas, Helena discute ao telefone.
HELENA: Não foi nem uma, nem duas vezes que você falhou comigo. Agora ele saiu do hospital, está mais corajoso do que nunca, e declarou guerra contra mim (p). Que não seja um serviço sujo. Não tem que parecer direcionado a ele, entende? Como daquela vez da sua fracassada tentativa de latrocínio (p). Isso, desta vez sem erro. Quero Danilo morto amanhã, sem falta.
Ouvimos um barulho. Helena se volta, assustada e dá de cara com Ana, de camisola, em estado de choque.
HELENA: Ana?
ANA: Então era verdade? Você quer matar o Danilo por causa de uma herança?
Helena vai se aproximando.
HELENA: Escuta, Ana. Tudo que faço é pensando em você/
ANA: Não vem com esse papo não. Me mandou pra longe porque não aguentava ouvir umas verdades, não é? Dizia que eu era a cara do meu pai. Agora diz que pensa em mim? Quer matar o Danilo por amor a mim?
HELENA: Você entendeu errado/
ANA: Quando a minha tia chegar você vai se entender com ela.
E
Ana dá as costas.
HELENA: Onde você vai?
ANA: O que acha?
Helena a segue pelo CORREDOR,
HELENA: Cê
não vai fazer nada!
E Helena agarra nos cabelos de Ana,
as duas se atracam. Ana se volta, tenta tirar aquelas mãos de cima
dela, mas sem sucesso; Helena lhe dá um empurrão para dentro de seu
QUARTO,
e
Ana bate com a nuca na cabeceira da cama.
Ana está desacordada
no chão.
A tela se fecha num baque.
FADE IN
CENA 15 RUAS DA CIDADE [MANHÃ DO DIA SEGUINTE]
Takes da cidade e o seu trânsito.
Dcr,
munido de uma bolsa grande, caminha em passos vacilantes, olhando
sempre ao seu redor. Dcr para numa calçada, ao lado de uma banca de
jornais, onde algumas pessoas se aglomeram para ler as últimas
notícias. Dcr, curioso, também espia.
[POV de Dcr]
Capa
do jornal “Carioca News” com a seguinte notícia: “Fotógrafo
do jornal Carioca News morre atropelado após tentar recuperar câmera
roubada”
“Roger Ribeiro trabalhava ao lado de Lila Machado
na coluna do Jet-set. Seu último trabalho foi investigar a vida de
Danilo Rodrigues, vítima de um acidente na Rio-Niterói. Seu enterro
está marcado para hoje, às 10:00 da manhã”.
Ao lado da
nota há uma foto de Lila e Roger juntos.
VOLTA À CENA
Dcr se mostra atordoado.
DCR: Lila Machado? (lembra) Dalila Moura?!
CORTA PARA
CENA 16 CEMITÉRIO [INT. / MANHÃ]
Há muitas pessoas em volta de um caixão. Lila, de óculos escuros, deposita uma rosa branca sobre o caixão. Imediatamente, Lila faz um sinal da cruz e dá as costas, abalada, e dá de cara com Dcr.
DCR: Doutora Dalila Moura...Não é?
Lila fica sem graça.
LILA: O que veio fazer aqui?
DCR: (sonso)
Não parece óbvio? Fiquei sabendo que a psicóloga do hospital tinha
perdido um amigo. Vim prestar minha solidariedade.
Hans,
com um sorrisinho besta, observa ao longe.
LILA: Não dá pra gente conversar aqui/
DCR: (seco) Eu não vim pra gente conversar; Eu só vim te perguntar por que anda investigando a minha vida? Eu não sou político, nem artista, nem outra pessoa influente, então...Por que eu?
LILA: Esse é o meu trabalho; Escrever sobre a vida de milionários, políticos, pessoas influentes. Não é nada pessoal/
DCR: Passou a ser. Eu não quero o meu nome envolvido em suas colunas. Se não tiver nada de bom pra escrever, melhor que nem escreva. Tenho certeza de que como psicóloga você consegue mais.
E Dcr dá as costas, revoltado, deixando Lila sem ação. Ouvimos uma música de celular, Dcr coloca a mão no bolso da calça e apanha seu telefone.
DCR: Ana? (e atende) Oi, Ana.
ANA (V.O): Danilo, você tinha razão sobre a minha mãe; Ela encomendou a sua morte pra hoje.
Tensão em Dcr.
SONOPLASTIA: Suspense
Ouvimos
um tiro, Dcr se assusta e todos os outros também.
Mais tiros
são disparados, todos se desesperam, e Dcr atordoado, se agacha
atrás de uma árvore.
Corta para um homem armado à
espreita de um jazigo, direcionando a arma em Dcr. Por esse ponto de
vista, vemos que Dcr acabou de notar o homem, mas não dá tempo; A
arma dispara e Dcr acaba atingido no peito, tenta se levantar, vai se
esgueirando pelo chão e acaba por tombar, já sangrando.
FIM
DA SONOPLASTIA
Lila se agacha para socorrê-lo.
LILA: Danilo! Você vai ficar bem. Vou te levar pro hospital.
DCR: (se esforça) Eu acho que vou morrer. Melhor me deixar aqui pra te poupar o trabalho.
LILA: Você não vai morrer, você não pode morrer.
DCR: Claro, o show acabou pra você, não é? (dor) É o fim da sua matéria de sucesso. Antes eu não tivesse vindo. (ofegante) Antes eu não tivesse brigado com a minha tia. Fiz tudo errado.
LILA: Do que você tá falando?
DCR: Que se eu pudesse voltar no tempo eu faria tudo diferente. E nada disso estaria acontecendo.
LILA: Se eu pudesse voltar no tempo...(Olhar firme de Lila) Roger poderia estar vivo. Eu disse que se ele não conseguisse as suas fotos ele não trabalharia mais pra mim. (Lila sofre) Só que eu menti. (choque em Dcr) Não podemos voltar no tempo.
DCR: Não. Eu não posso ter acordado do coma pra morrer assim. Existem pessoas que precisam pagar por seu erros. Isso não tá acontecendo...Não tá acontecendo.
Dcr suspira forte e olha fixamente para Lila, que se preocupa.
LILA: Danilo? Danilo?
Dcr
entra em estado catatônico.
CAM adentra seus olhos e, num FLASH
de luzes, todas as cenas anteriores retrocedem rapidamente,
ao mesmo tempo em que um RELÓGIO GRANDE mostra os ponteiros retrocedendo e, no momento em que o ponteiro para às 14 horas...
CORTE CASADO em
Um
relógio masculino no pulso marcando 14 horas.
CENA
17 JARDIM
– CLÍNICA NOVO HORIZONTE [TARDE DO DIA ANTERIOR]
Dcr acaba de olhar as horas, enquanto se aproxima vagarosamente de Daniel.
DCR: Pensei que não fosse mais te ver.
Daniel se surpreende, levanta-se afobado e o abraça, um abraço apertado.
DANIEL: Filho! Meu Deus, quanto tempo! (cara a cara) Não sabe como rezei para te ver de novo, são e salvo.
DCR: (sorri emocionado) Eu sinto que acordo de um pesadelo todo dia, pai. Talvez medo de um dia acordar e perceber que meses se passaram de novo.
DANIEL: Vem, senta aqui, me conta tudo.
Os dois se sentam. Dcr olha ao seu redor, curioso.
DANIEL: Sua tia veio aqui dizer que você ficou com sequelas irreparáveis. Você parece bem.
DCR (desconfiado): Ela disse isso? (Daniel faz que sim) Digamos que anda acontecendo coisas comigo. Sabe quando você sonha com algo que já sonhou, sabe tudo que vai acontecer, e mesmo assim tenta mudar? Só que nada que você faça (Dcr parece lembrar de algo)... Pode mudar o fim da história?
Dcr se levanta, afobado.
DCR: Isso não vai acontecer de novo.
Dcr sai
em disparada.
DANIEL: Espera,
filho! O que houve?
Em Daniel, sem entender.
CORTA PARA
CENA 18 RUAS DA CIDADE
Esbaforido, Dcr começa a apressar o passo.
CORTE DESCONTÍNUO EM
Roger, do outro lado da rua, mais afastado, que ao vê Dcr, entra rapidamente no carro.
VOLTA
em Dcr que espera os carros passarem.
Roger tira umas
fotos, arruma a câmera para posicioná-la novamente, e é quando um
rapaz, bem afeiçoado, e fora de suspeitas, arranca sua câmera e sai
batido.
Roger sai do carro.
ROGER: PEGA LADRÃO!
Roger corre, muita ação, ruas bem movimentadas de carros.
Dcr se
arrisca e atravessa a pista perigosa, se esbarra no bandido, e salta
por cima de Roger.
Ouvimos uma batida. Dcr e Roger
olham adiante o bandido caído, ensanguentado.
Roger está perplexo.
ROGER: Cara! Você salvou a minha vida!
Em Dcr, assustado, enquanto ouvimos buzinas.
FADE TO BLACK
QUARTO ATO
FADE IN
CENA 19 REDAÇÃO DO JORNAL NOVO DIA [INT. / TARDE]
Uma
pilha de pastas é jogada sobre uma mesa com força.
Hans está
invocado, apoiado sobre a mesa. Um rapaz se aproxima, e mal tem tempo
de falar.
HANS: Conseguiram a câmera?
RAPAZ: Não. Quando eu cheguei o Roger já havia recuperado. O enterro será amanhã/
HANS: (corta / indiferente) Eu pedi pra aquele estagiário tomar cuidado. Se pelo menos eu tivesse conseguido aquela câmera. (Hans dá um soco na mesa) Isso que dá lidar com gente que não tem manejo. Ele não tava tão interessado em ser efetivado.
RAPAZ: E desde quando você tem poder pra efetivar alguém, Hans? (Hans o encara, com raiva) Você depende de um grande furo pra chefe te dá um cargo mais alto, porque ter tentado seduzi-la não funcionou muito bem. Não é?
O rapaz dá as costas, deixando Hans mais irado ainda.
CORTA PARA
CENA 20 APTº 215 [INT. / TARDE]
A
porta é aberta por um Dcr pensativo.
Helena chega à
sala, arrumada para sair e os dois se encaram.
HELENA: O que aconteceu, Danilo? Seu pai surtou de novo?
Dcr
a olha com ódio, mas disfarça.
Helena pega a chave sobre a
mesa central.
HELENA: Não deve ter sido fácil pra ele saber tudo que você passou, não é?
Ana surge na sala, logo atrás de Helena.
ANA: (animada) Não vai me dar um abraço, priminho?
Dcr abre um sorriso e vai até Ana, lhe dando um forte abraço.
DCR: Que bom que você tá bem.
ANA: (estranha) E por que eu não estaria? Olha, foi só uma dose de vodca, viu. Apaguei, mas to aqui.
Dcr ri, enquanto Helena reprova pelo olhar.
DCR: Veio pra ficar?
ANA: O suficiente pra cuidar de você. Soube que sua maré de amigos não anda bem. Quero cuidar desse baby grande que eu tenho.
Os
dois riem e tornam a se abraçar.
Em Dcr, sobre o ombro de Ana,
sorrindo aliviado.
CORTA PARA
CENA 21 REDAÇÃO “CARIOCA NEWS” [INT. / MANHÃ DO DIA SEGUINTE]
Mãos
femininas digitam alguma coisa no computador.
Roger se aproxima
com um envelope na mão.
ROGER: (sorridente) E aí, Lila? Mal posso esperar pela coluna de amanhã. (faz um gesto como a mencionar uma manchete / tom de repórter) A primeira atitude pós-coma do herói descoberto por Lila Machado foi salvar Roger Ribeiro da morte. Que tal?
LILA: Que tal...? Após sair de um coma de três meses, nosso herói mais simpático arrisca sua pele para salvar um fotógrafo da morte.
ROGER: Você fala “um fotógrafo” como se eu fosse um transeunte qualquer. Me sinto aquele cara mencionado na TV como “o homem de 30 anos que quase morreu atropelado. O homem passa bem”.
Lila
ri. A partir desse ângulo, Dcr, segurando um jornal, adentra
apressado e passa por entre as mesas. As pessoas observam,
curiosas.
Ao se aproximar pelas costas de Roger, Dcr joga
uma folha de jornal sobre o teclado com a seguinte notícia:
“Nosso
querido Danilo Rodrigues vem sofrendo pesadelos recorrentes
pós-trauma, mas acredita-se que o seu estado de saúde esteja
relacionado ainda à perda brutal de sua esposa”.
Lila
encara Dcr, surpresa.
LILA: Você?
DCR (sarcástico): Você?
ROGER: Danilo! Gente, esse cara salvou a minha vida/
DCR: (sério) Não precisa fazer mais estardalhaço do que já fizeram.
Lila se levanta percebendo a curiosidade nos colegas.
LILA: Olha, Danilo, a gente pode conversar/
DCR: (corta / segurando a raiva) Sobre o quê? Sobre você fazer tudo por uma “grande” notícia? Sobre como você engana as pessoas? Isso eu já entendi. Cê tem ideia do que você fez? Você expôs o meu drama nos jornais, nas redes sociais/
LILA: (se defende, nervosa) Eu sou uma jornalista. Se você também fosse faria tudo por uma boa matéria/
DCR: Eu não sou uma boa matéria, tá legal? (Ouvimos buchichos / Roger observa) Não sou uma celebridade, nem um político sob suspeita. São eles que você deve investigar, se é isso que você faz nessa sua coluna.
LILA: Você é sucesso...As garotas, elas...Elas torcem por você, sabe?
DCR: A única pessoa que eu queria que torcesse por mim hoje...Está morta. Mas essa é uma história que você já conhece, não é mesmo, Lila Machado?
Dcr dá
as costas. Todos comentam a situação, enquanto Lila está
pasma.
ROGER: Talvez
você deva tirar o “mais simpático” da sua coluna...
Ouvimos um bip, Lila atende o telefone.
LILA (ao telefone): Ok.
Lila desliga, faz um sinal para Roger e sai de cena.
CORTA PARA
CENA 22 REDAÇÃO “CARIOCA NEWS” – ESCRITÓRIO [INT. / MANHÃ]
Close
numa plaqueta sobre a mesa com a seguinte inscrição:
“Alexandre Abjumara - chefe”.
A porta é aberta,
Lila entra, fecha a porta com uma expressão chateada.
ALEXANDRE (O.S): Já sabíamos que uma hora isso ia acontecer, não é?
LILA: Constrangedor. Acha que ele pode nos processar?
Um homem sentado, de costas, se vira, segurando uma caneta. Ele é moreno claro, calvo, aparenta uns 60 anos.
ALEXANDRE: Já enfrentamos coisa bem pior do que a fúria de um simples milionário, Lila. Mas continue o seu trabalho. Se você disse que vai ser bom para o jornal, então continue apurando a vida desse rapaz.
Lila assente, sorrindo discretamente.
CORTA PARA
CENA 23 RUAS DA CIDADE [MANHÃ]
Dcr anda apressado, firme, coloca o celular no ouvido.
DCR: Sim, a Raíza está na mesma clínica do meu pai, mas escuta, não tente nada de extraordinário para tirá-la de lá, ok?
CAEl(V.O): Que tipo de coisa extraordinária, Danilo?
DCR: Do tipo...Fora do seu campo de influências. Apenas faça aquilo que você já tinha em mente.
CAEL (V.O): Não se preocupe, Danilo; Não pretendo chamar o Homem de Ferro ou o Wolverine.
DCR: (ri discretamente) Tudo bem.
Dcr desliga o celular e atravessa a tela.
CORTA PARA
CENA 24 MANSÃO DE CAEL - ESCRITÓRIO [INT. / MANHÃ]
Cael, sentado por trás de sua mesa, acaba de desligar o telefone e, na outra mão, manuseia uma caixinha preta. Cael abre a caixinha e pega um frasco, o mesmo da CENA 12, e o admira, curioso.
FUSÃO PARA
CENA 25 REDAÇÃO “NOVO DIA” [INT. / MANHÃ]
Tela do computador onde a coluna de Lila Machado do jornal “Carioca News” é visualizada. A seguinte notícia é estampada num tom sarcástico:
“Nosso amigo Hans Stroher do jornal Novo Dia está desconsolado; Seu novo estagiário morreu ontem atropelado depois de roubar a câmera do fotógrafo desta coluna. Todos nós lamentamos essa perda. Do estagiário”.
Logo abaixo há uma imagem de um corpo coberto por um plástico preto e uma foto menor do estagiário. Acima dela, o nome Roger Ribeiro como autor da foto.
Hans, com os cotovelos sobre a mesa, esfrega as mãos com raiva, enquanto lê a notícia.
FUSÃO PARA
CENA 26 HDM CONSTRUTORA [INT. / MANHÃ]
Em Marco pensativo. Ele está sentado com o cotovelo apoiado na mesa e rodopiando uma caneta por entre os dedos. Ouvimos um alerta de SMS, Marco apanha o celular sobre a mesa e estranha a mensagem.
MARCO (lê): Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva, mas isso não te dá o direito de ser cruel.
Marco se mostra curioso.
FUSÃO PARA
CENA 27 ALA DE TRATAMENTO ESPECIAL - CLÍNICA NOVO HORIZONTE [INT. / TARDE]
Ouvimos
passos pelo corredor.
Betty e Dcr surgem na tela, de
costas, caminhando em direção a uma porta. Corta.
CENA 28 QUARTO DE TRATAMENTO ESPECIAL [INT. / TARDE]
Raíza está
amarrada numa cama, angustiada, se debatendo em vão.
Ouvimos a
porta ser destrancada.
Raíza para, tensa.
A porta é aberta, Betty entra e, em seguida, Dcr. A enfermeira olha para ele e para Raíza, desconfiada, mas sai, fechando a porta.
Dcr se aproxima, chocado pela cena que vê.
RAÍZA: (emocionada) Dcr...Você veio.
Dcr toca a mão de Raíza e sorri.
DCR: Parece que a minha amiga vidente perdeu os poderes.
Raíza sorri
animada.
Em Dcr, aliviado por fazer a revelação.
FADE TO BLACK
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