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CENA 01. DELEGACIA. SALA DA DELEGADA. INT. DIA.
ABRE na foto de Joanne e Kléber se beijando.
PANORÂMICA do ambiente. Joanne surpresa olha para Élio, que sai sem dizer nada.
MARTA – Agora você vai me ouvir, sua imunda.
Joanne se afasta, Marta fecha a porta da sala, guarda o celular.
JOANNE – Essa foto não diz o que.../
MARTA (por cima) – Não tenta se justificar, vai ser pior.
JOANNE – Quem publicou isso?
MARTA – Agora isso não interessa. (andando pela sala) Meu Deus! Meu Deus, vocês juntos. É nojento demais.
JOANNE – Nojento foi o que você fez no passado.
MARTA – Não vem agora dar seu showzinho, relembrar passado. Eu tô falando do que aconteceu agora. Você dando uma de boa samaritana e dando pro meu marido.
JOANNE – Pera lá, olha os modos no meu ambiente de trabalho. Tá vulgarzinha demais.
MARTA – Você que se encontra as escondidas com homem casado e eu que sou a vulgar? Piada, né? E das mais sem graça. Eu não tô aqui por você, tô aqui por ele. Você não respeitou o seu trabalho, o caso do assalto a joalheria.
Joanne abaixa a cabeça, envergonhada.
MARTA – Eu tanto que apostei as fichas que vocês tinham um caso, eu tanto que disse. Mas fui taxada de maluca, de louca neurótica que precisava de tratamento urgente.
JOANNE – Eu só posso te pedir desculpas, Marta. Realmente eu fui errada, me deixei levar por sentimentos de um passado que eu não consegui enterrar.
Marta se aproxima de Joanne, olhar fixo nela.
MARTA – Você nunca aceitou que perdeu. Sabe que hoje, vendo essa foto ridícula estampada em tudo que é site de fofoca, eu vejo que você conseguiu o que queria. (aplaude) Palmas para você.
JOANNE – Eu não tô te entendendo.
MARTA – Sonsa. Você quis se vingar de mim. Mostrar que poderia me dar o troco. Conseguiu.
JOANNE – Que troco é esse? Você tá delirando.
MARTA – Lá atrás, eu roubei o Kléber de você.
JOANNE – Eu que não quis ficar com ele, sua estúpida.
MARTA – Não quis ou não teve peito? Bastou eu embebedar o Kléber e passar a noite com ele na sua cama, pra você simplesmente desmanchar o noivado. Um deslize do cara e você joga uma vida toda pra cima?
JOANNE – Acontece que eu era nova, ingênua e acreditei que vocês dois estavam mesmo de caso.
MARTA – Você foi fraca e sabe por quê? Porque você nunca amou o Kléber de verdade.
JOANNE – Isso é mentira.
MARTA – Você amava o casamento como instituição, como projeto de vida, não o homem que o Kléber sempre representou.
Joanne sente.
MARTA – Você ama o flerte, a sedução, mas não sabe qual o próximo passo, não sabe o que seguir. E viu naquela armação fajuta e manjada uma forma de se livrar do fardo que seria casar com um homem que você só sente atração sexual.
JOANNE – Sai daqui, Marta.
MARTA – Saio. Saio carregando o fardo de ser chifruda pro Brasil inteiro, mas garanto que a posição de amante será muito mais ingrata pra você.
Marta sai, bate a porta com força.
SONOPLASTIA: AONDE QUER QUE EU VÁ – OS PARALAMAS DO SUCESSO.
Joanne se escora na parede, visivelmente abalada.
JOANNE (pra si) – Minha vida acabou!
Ela desliza, até seu corpo cair todo no chão, fica ali, imersa em seus pensamentos e deixa escorrer uma lágrima pela face.
CENA 02. BAIRRO PRAZERES. STOCK SHOTS. EXT. DIA.
Sonoplastia da cena anterior continua.
Takes rápidos e pontuais do bairro, mostrando suas áreas carentes, seu povo feliz, trabalhador.
MÚSICA CESSA.
CENA 03. CASA DE DOS ANJOS. QUARTINHO DE SANTO. INT. DIA.
Dos Anjos está de pé com um rosário, rezando um homem, que está sentado em uma cadeira.
DOS ANJOS (REZANDO) – Espinhela caída, portas para o mar; Arcas, espinhelas, em teu lugar. Assim como Cristo Senhor Nosso andou, pelo mundo arcas, espinhela levantou.
Dos Anjos junta as duas palmas das mãos do homem, olha atentamente e sorri.
DOS ANJOS – Essa sua dor, moço, pode ter certeza que já passou. Era espinhela caída mesmo. Agora, ocê vai tomar um chá de alecrim com capim cidreira por três dias, às 18 horas e rezar três Pai Nosso, entendeu?
HOMEM – Sim, senhora.
O homem se levanta.
DOS ANJOS – Já pode ir.
O homem pega na mão de Dos Anjos e a beija, com devoção. Em seguida, sai. Ela vai atrás.
CENA 04. CASA DE DOS ANJOS. SALA. INT. DIA.
O homem sai pela porta, pouco depois Tamires entra.
DOS ANJOS (surpresa) – Filha?!
Dos Anjos abraça Tamires, que também a abraça, mas meio reticente.
DOS ANJOS – Tava morrendo de saudade.
TAMIRES – Ando muito sem tempo de vir aqui.
Tamires se senta.
DOS ANJOS – Não pode só trabalhar, minha filha.
TAMIRES – Eu tô me refinando, minha mãe. Aprendendo a usar vários talheres, a escolher um vinho para cada ocasião. A propósito, acabei de sair do inglês. Dona Consuelo não pode nem sonhar que eu botei meus pés nesse bairro xexelento.
DOS ANJOS – Ai, filha, credo! Ninguém pode te impedir de visitar sua família.
TAMIRES – Celular existe pra isso, mãe. Eu ligo. O que não dá é atravessar essa cidade e ainda correr risco nesse bairro.
DOS ANJOS – Bairro que escolhi pra viver, que criei você e suas irmãs.
TAMIRES – Não modifica em nada o que eu penso disso daqui.
DOS ANJOS – Tânia nunca reclamou. Sabine também não. Nós gostamos daqui. É acolhedor, é um bairro feliz.
TAMIRES (se levantando) – É isso que eu não aguento em vocês, minha mãe. (se aproxima de Dos Anjos) Essa falta de ambição, de não querer crescer na vida, não se dar uma vida melhor, mais decente.
Dos Anjos se entristece.
TAMIRES (doce) – Não é pecado almejar e lutar por isso, mãe. É o que eu quero pra mim.
DOS ANJOS – E acha que vai ser feliz assim?
TAMIRES – Eu tenho certeza que sim.
DOS ANJOS – Quem é que pode ser feliz longe da família? Que árvore permanece de pé sem suas raízes?
TAMIRES – Ai, mãe, sem draminha, vai. Eu só vim buscar uns documentos que faltaram e tô metendo o pé.
Tamires vai se afastando.
DOS ANJOS – Eu sei onde é a casa da Dona Consuelo, já fiz faxina lá. Quando der eu passo pra te visitar.
Tamires vira-se rapidamente e se aproxima de Dos Anjos.
TAMIRES (séria) – Nem pensa nessa possibilidade.
DOS ANJOS – Por que?
TAMIRES – Eu tô esquematizando umas paradas aí. Tô precisando dessa gente pra subir, ir pra alta roda, entendeu? Não vem agora querer embargar minhas coisas. Eu sempre sonhei com isso.
Tamires se aproxima mais de Dos Anjos, acaricia seu rosto.
TAMIRES – Depois que isso tudo passar, eu juro que dou total atenção à senhora.
DOS ANJOS – Só tenho medo que você se machuque.
TAMIRES – Eu sei me cuidar.
Tamires se afasta. Dos Anjos se senta no sofá, triste.
CENA 05. HOSPITAL COPA D’OR. FACHADA. EXT. DIA.
CLOSE no letreiro do hospital. Fluxo normal de pessoas e veículos.
CENA 06. HOSPITAL COPA D’OR. QUARTO. INT. DIA.
Daiana está deitada na cama, acordada. Uma enfermeira lhe dá um comprimido.
DAIANA – Quando é que terei alta?
ENFERMEIRA – Bem em breve, querida. O tiro foi de raspão e bem superficial. Acredito que até amanhã você já tenha alta.
DAIANA – Ai, que bom.
Alguém bate à porta. A enfermeira atende e Élio entra.
ÉLIO – Como você está, Daiana?
ENFERMEIRA (saindo) – Vou deixá-los a sós.
A enfermeira sai e fecha a porta.
DAIANA – Tô bem. Com o ombro um pouco dolorido, coisa pouca.
ÉLIO – Ali fora tem dois policiais vigiando seu quarto e quando você for embora, terá dois a sua disposição também.
DAIANA – Agradeço. Cadê a delegada?
ÉLIO – Ela tá resolvendo umas outras diligências. Não pode vir, mas pediu para que eu viesse e lhe pedisse desculpa. Estamos a sua inteira disposição.
DAIANA – Eu preciso dizer algo antes que me matem.
ÉLIO – Mas que bobagem, você está protegida, não vai morrer.
DAIANA – O homem ao qual iríamos a casa dele naquela noite, morra em Prazeres, no subúrbio.
Élio se surpreende.
DAIANA – O que foi?
ÉLIO – A Tânia, a moça da bomba, também era de Prazeres.
DAIANA – Você acha que ela poderia conhecer o assassino?
ÉLIO – Não podemos descartar qualquer possibilidade.
Em Élio, pensativo.
CENA 07. CASA DE DOS ANJOS. QUARTO DE DOS ANJOS. INT. DIA.
Tamires está revirando algumas gavetas do guarda-roupas.
TAMIRES – Minha mãe esconde esses meus documentos tão bem escondidos que garanto que nem ela sabe onde estão.
Tamires olha caixas em baixo da cama, gavetas da cômoda, mas não acha o que procura.
TAMIRES – Quero meu título eleitoral. Votar em seção na Zona Sul, meu amor.
Tamires avista um envelope em cima da cômoda. Olha para ele por um instante e o pega.
Ela se senta na cama e começa a ler o conteúdo, ficando totalmente chocada.
DOS ANJOS (entrando) – Filha, seus documentos estão no seu quarto.
Dos Anjos se assusta ao ver Tamires com o envelope.
TAMIRES (séria) – Será que dá pra madame me explicar o que significa isso?
Em Dos Anjos, assustada.
QUASE PERFEITO - CAPÍTULO 6
CENA 08. MANSÃO MAGALHÃES. ÁREA EXTERNA. EXT. DIA.
Marta vem do interior da casa junto de uma empregada. Com uma mala em mãos, contorna a piscina e se aproxima da churrasqueira, que está acesa.
MARTA – Abre essa mala.
A empregada abre a mala e começa a entregar umas roupas masculinas.
MARTA (raiva) – Tudo que é dele vai queimar, você vai ver.
Marta joga com extrema força as roupas na churrasqueira. Pouco depois, Consuelo se aproxima.
CONSUELO – O que tá acontecendo aqui?
MARTA – O que a senhora está vendo, mamãe: churrasco.
CONSUELO – Mas essas roupas são do Kléber. Você tá ficando maluca?
MARTA – Maluca eu estava de aguentar esses chifres todos. Eu quero que tudo que seja dele, tudo que tenha encostado ou que lembre aquela piranha, queime, vire cinza.
Consuelo puxa a mala.
CONSUELO – Para com isso, Marta. As coisas não se resolvem assim.
MARTA – E se resolvem como, dona Consuelo?
Marta puxa com força a mala das mãos de Consuelo e a joga inteira na churrasqueira.
Consuelo e a empregada olham tudo perplexas. Marta sorri.
MARTA (aliviada) – Pronto, agora eu tô satisfeita, leve.
Em Marta, olhar diabólico.
CENA 09. CASA DE DOS ANJOS. QUARTO DE DOS ANJOS. INT. DIA.
Dos Anjos e Tamires de pé, frente a frente.
TAMIRES – Vai me explicar o que é isso ou vou ter que levar até a polícia?
DOS ANJOS – Calma, minha filha.
TAMIRES – Calma? Que mané calma, mãe. A senhora tem um seguro de vida em nome da Tânia e quer que eu tenha calma?
DOS ANJOS – É uma história complicada, envolve muita gente. Ela quis fazer pra garantir o futuro do Yago.
TAMIRES (lendo) – Quatrocentos mil reais em caso de morte, salvo se for suicídio.
Tamires joga o documento na cama, olha para Dos Anjos.
TAMIRES – Um dinheirão desses e a senhora não me diz nada?
DOS ANJOS (alterada) – E eu ia dizer o quê? Esse dinheiro não é nosso. Esse dinheiro não traz a minha filha de volta. É porcaria.
TAMIRES – É porcaria pra senhora, que não tem ambição que viveu e quer morrer nessa penúria de vida. Mas esse dinheiro pode modificar a minha vida.
DOS ANJOS – Esse dinheiro é do Yago, Tamires. É pro futuro do filho dela.
TAMIRES – Se eu tiver um futuro bom, o Yago também terá.
DOS ANJOS – Sai daqui, Tamires.
TAMIRES – Eu vou sair, mãe. Mas eu volto e volto para cobrar o que me pertence por direito. Não pense a senhora que vai ficar tudo por aí.
Tamires sai. Dos Anjos se recosta na parede, completamente abalada.
CENA 10. DELEGACIA. SALA DA DELEGADA. INT. DIA.
Joanne ENTRA com um copo em mãos, quando vê Orestes sentado em sua cadeira. Surpresa, ela deixa o copo cair.
JOANNE – Orestes?
Orestes se levanta, olhar fixo em Joanne.
ORESTES – A gente tem muito o que conversar, não acha?
Em Joanne.
CENA 11. BAIRRO PRAZERES. PRACINHA. EXT. DIA.
Valeska desce de um ônibus, caminha até se sentar num banco próximo.
INSERÇÃO DO FLASHBACK: CAPÍTULO 5. CENA 27. COLÉGIO MUNICIPAL. SALA DA DIREÇÃO. INT. DIA.
HOMEM – Você é um rascunho mal feito. É falta do que fazer, só pode.
DIRETORA – Contenha-se, ou terei que chamar a polícia.
HOMEM – Fica tranquila, diretora. Eu tô de saída. Mas eu vou fazer a cabeça de todos os pais, farei abaixo-assinado, irei até o secretário de educação se preciso for, mas eu vou mandar fechar esse pardieiro. (a Valeska) E pra você, eu deixo isso.
O homem dá um murro no rosto de Valeska, que cai deitada no chão.
FIM DO FLASHBACK.
Valeska começa a chorar copiosamente. Pouco depois, Eleandro passa por ali, se aproxima.
ELEANDRO – Valeska?
Valeska o olha, seca as lágrimas.
ELEANDRO – Eu não sei o que tá acontecendo, mas não chora. Detesto ver mulher chorar.
Eleandro se senta, abraça Valeska.
VALESKA – Eu sou uma droga de ser humano, cara. Eu mereço sumir.
ELEANDRO – Não diga isso. Você é uma mulher incrível. É linda, profissional, bondosa.
VALESKA – Mas nem todo mundo pensa assim, nem todo mundo vê isso em mim. Aliás, quase ninguém. (APONTANDO PARA A BOCA) Tá vendo essa marca? É a marca da intolerância dessa gente.
ELEANDRO – Você foi agredida aqui?
VALESKA – Aqui, não. Mas como diz a minha diretora, aqui as pessoas estão acostumadas comigo. Como se eu fosse um bicho adestrado.
ELEANDRO – Você é incrível.
VALESKA – Incrível? E por que ninguém gosta de mim? E por que ninguém se interessa por mim, Eleandro?
Eleandro a beija. Pouco depois, os dois se olham.
VALESKA – Não faz isso de novo, por favor.
ELEANDRO – Você não gostou? Me desculpa.
VALESKA – Eu amei. E meu medo é esse seu momento de tentar me consolar e eu me apegar.
ELEANDRO – Posso ser xucro, como a Tamires dizia, posso ser um duro, de pouco estudo, mas eu tenho caráter, gata. Eu tô aqui única e exclusivamente te beijando, porque eu tô realmente afim de você.
Valeska sorri, os dois se beijam.
CENA 12. DELEGACIA. SALA DA DELEGADA. INT. DIA.
Orestes e Joanne se encaram.
ORESTES – Na minha cara tá escrito palhaço? Só pode estar, né?
JOANNE – A minha vida pessoal não tem nada com a profissional, são linhas paralelas.
ORESTES – Caso de amor com o dono da joalheria Cintra, envolvido no caso de maior repercussão no Brasil. Você tem ideia de que furada você me meteu? (grita) Tem, sua irresponsável?
JOANNE – O meu caso com o Kléber vem de muito antes do que você possa imaginar. Nós já fomos noivos.
ORESTES – Eu pouco me lixo pra isso, Joanne. Eu dei esse caso na sua mão.
JOANNE – Porque não tinha outra saída. O meu departamento era o mais próximo.
ORESTES – O governador e o secretário de segurança me ligaram e não foram nada gentis. Eu amanheci com dois homens gritando ao telefone comigo, me chamando de irresponsável, de burro. A coisa vazou.
JOANNE – Eu vou processar o autor da matéria e das fotos.
ORESTES – E isso importa? Você manchou o nome da polícia do Rio de Janeiro. Manchou o nome do Governador.
JOANNE – Claro, a reputação da polícia e do governador eram imaculadas até o meu beijo no Kléber, né?
ORESTES – Não me venha de ironias, pois a minha vontade é te colocar daqui pra fora a pontapés.
Joanne se aproxima, estufa o peito.
JOANNE – Acontece, Orestes, que eu não sou sua mulherzinha. Eu não tô em cargo de confiança. Eu entrei pela porta da frente e também não cometi crime algum. A minha vida privada só diz respeito a mim.
ORESTES – Que bom te ver alterada. Vindo da Barra pra cá, com o trânsito maravilhoso que tem a essa hora do dia, eu pude analisar sua vida na polícia e você tem uma licença prêmio e dois meses de férias para serem tirados. Estou lhe dando cinco meses em casa.
Joanne se surpreende.
JOANNE – O quê?
ORESTES – Assim você tem tempo pra colocar sua vida pessoal, que como você mesma disse, só diz respeito a você, em ordem.
JOANNE – Mas esse caso não pode ficar arquivado até a minha volta.
ORESTES – Nesses cinco meses, minha querida, o Junqueira vai assumir tudo dessa DP aqui.
JOANNE – Você está me castigando, Orestes?
ORESTES – Eu tô só mostrando com quantos paus se faz uma bela canoa, querida. Passar bem.
Orestes SAI.
CENA 13. MANSÃO MAGALHÃES. SALA DE ESTAR. INT. DIA.
Consuelo e Esther estão sentadas no sofá, cada uma com uma xícara na mão. Consuelo visivelmente preocupada.
ESTHER – Desde que cheguei, tô te achando meio estranha. O que aconteceu?
Consuelo dá uma golada na xícara e a deposita na mesa em frente.
CONSUELO – Hoje de manhã cedo saiu num site de fofocas uma foto do Kléber beijando uma mulher.
ESTHER – Mas esses homens são assim. É biológico. Eu mesma já suportei tantas e tantas traições do falecido.
CONSUELO – É o que eu penso, mas a Marta é descompensada. Saiu cuspindo fogo e voltou cuspindo marimbondos. Jogou as roupas todas do Kléber na churrasqueira. Foi uma loucura. Um circo dos horrores.
ESTHER – Ah, minha amiga, acho então que vim numa má hora. Você aí cheia de problemas.
CONSUELO – Os problemas são da Marta, mas ela é imatura, impulsiva, cheia de querer, respinga em mim. Não sei o que seria dela sem mim. Mas me diga, o que te trouxe aqui?
Esther respira fundo.
ESTHER – Filhos. Aliás, filho. O meu.
CONSUELO – Mas Lucas é um amor de pessoa. Você acertou na loteria. Ao contrário de mim, que tenho um vulcão em constante erupção.
ESTHER – Eu também achava isso, mas tô começando a me preocupar. Deve ser provação divina.
CONSUELO – Mas o que foi?
ESTHER – Lucas está de namorico com a minha cabelereira.
CONSUELO – Aquela linda dos olhos verdes?
ESTHER – Isso. Ela é linda, gentil, muito minha amiga, mas pobre.
CONSUELO – Nada que um fino trato não resolva. Eu, por exemplo, tô aqui em casa com Tamires. Xucra, mas tem seguido à risca as aulas de finesse.
Esther se levanta, meio pensativa, anda de um lado ao outro.
ESTHER – Não sei, Consuelo. A minha família vem de uma linhagem mais nobre, mais alta. Seria um pecado sujar o sangue logo na minha vez. Pensa só: se eu tivesse dois ou três filhos, tudo bem. Mas tenho um só. É lindo, rico e inteligente. Metade das moças da elite carioca fariam de tudo para ter o Lucas como marido.
CONSUELO – Essa coisa de linhagem é arcaica, Esther. Dá um banho de etiqueta na menina e ela estará a altura do sobrenome D’Ávila.
ESTHER – Raça mista? Deus me livre!
Consuelo se levanta.
CONSUELO – Você veio saber minha opinião ou me avisar sobre a sua decisão?
ESTHER – Na minha família não entra gente da raia miúda. Sabine não será exceção.
Em Esther.
CENA 14. DELEGACIA. FACHADA. EXT. DIA.
Fluxo normal de pessoas e veículos por ali.
CENA 15. DELEGACIA. SALA DA DELEGADA. INT. DIA.
Joanne está terminando de colocar seus objetos pessoais em caixas. Ela pega um porta-retratos em que há a sua foto na formatura da polícia. Sorri e deixa escapar uma lágrima.
JOANNE (pra si) – Que Deus não permita que a maldade do Orestes vença. Eu vou, mas volto. Tão determinada e cheia de planos como nesse dia.
Nesse momento, Élio entra. Os dois se olham. Joanne disfarça a tristeza, seca a lágrima.
ÉLIO – Tem um minuto?
Joanne assente com a cabeça. Élio fecha a porta atrás de si.
ÉLIO – Então o seu amor é o ricaço da joalheria.
JOANNE – Se vai me recriminar, pode.../
ÉLIO (por cima) – Vou sim. Vou recriminar, repudiar, reprovar, vou utilizar todos os sinônimos possíveis. Você parece adolescente, Joanne. Olha no que isso se transformou. Olha onde isso tudo te levou.
JOANNE – A gente não escolhe gostar das pessoas.
ÉLIO – Eu sei bem disso. Poderia ter evitado manchar seu nome, sua carreira. Só você saiu perdendo nessa.
JOANNE – Eu errei em estar com um homem casado, admito. Mas, caramba, quem nunca errou na vida?
ÉLIO – Tem erros que podem ser evitados.
JOANNE – Guarda o seu sermão pro culto. Eu sou maior de idade, dona do meu nariz e não preciso que as pessoas me indiquem o caminho a seguir. Eu ando com minhas próprias pernas.
ÉLIO – E isso é andar? Você tropeçou no próprio pé. Caiu, tá na foça e ninguém quer te ajudar.
JOANNE – Como é que você sabe?
ÉLIO – Você foi obrigada a se afastar do seu cargo, o Brasil inteiro te detesta por ser amante, a mulher do cara veio aqui e brigou com você. E cadê ele? Cadê o apoio dele? No naufrágio, Joanne, os ratos são os primeiros a abandonar o navio.
Joanne coloca as duas mãos sobre a cabeça e se senta no chão, cabisbaixa.
JOANNE – Não me deixa pior do que estou.
ÉLIO – Eu tô decepcionado com você. Triste, magoado. Mas se tô aqui dizendo essas verdades, saiba que é porque gosto demais de você.
Élio sai. Em Joanne.
CENA 16. APARTAMENTO DE KLÉBER. SALA DE ESTAR. INT. DIA.
Tamires está olhando através da janela. Kléber se aproxima com uma garrafa de champanhe e duas taças.
TAMIRES (admirada) – Isso daqui é incrível. Uma cobertura maravilhosa, de frente para a praia de São Conrado.
KLÉBER – É eu sei. Comprei no nome de um amigo, com dinheiro daquela velha da Consuelo. Mulher metida a saber de negócios, mas não sabe quanto é dois mais dois.
Kléber estoura a champanhe. Tamires aplaude.
TAMIRES – Tomaremos champanhe?
KLÉBER – Francês. Do mais caro.
TAMIRES – Qual o motivo de tanta comemoração?
Kléber serve as taças e entrega uma para Tamires.
KLÉBER – Um brinde a essa morena gostosa.
Tamires sorri.
TAMIRES – E eu sou só isso?
Kléber se aproxima, brinda as taças, dá um selinho em Tamires.
KLÉBER – Você é a futura Senhora Magalhães. Eu vou me divorciar da Marta e vou me casar com você.
TAMIRES (incrédula) – Mentira?
KLÉBER – É a mais pura verdade. Vou fazer de você a mulher mais feliz e mais rica que esse Rio de Janeiro já conheceu. Aguarde!
Tamires sorri, pula no colo de Kléber. Os dois começam a se beijar.
CENA 17. DELEGACIA. REPARTIÇÃO. INT. DIA.
Vários policiais, entre eles, Élio, estão de pé olhando para Joanne.
JOANNE – Eu sei que fiz coisas erradas, que envolvi nosso departamento num escândalo. Nunca foi minha intenção, nunca vai ser. Só quero agradecer o carinho e dedicação de cada um de vocês. Eu tô saindo de cena, momentaneamente, mas em breve eu volto. E é isso. Eu detesto despedidas.
ÉLIO – Mas quem disse que isso daqui é uma despedida?
Joanne o olha e sorri.
JOANNE – Tem razão. Eu tô indo cuidar da minha vida pessoal, mas eu volto.
Todos aplaudem. Joanne deixa escorrer uma lágrima.
CENA 18. CASA DE ELEANDRO. QUARTO. INT. DIA.
Local simples, mas bem mobiliado e limpo. Valeska e Eleandro estão deitados na cama, ofegantes. Cobertos apenas por um lençol.
VALESKA – Olha, eu sempre tive fantasias sexuais com você, confesso. Mas eu nunca, em nenhum dos meus sonhos, pude imaginar que você era tão gostoso assim.
Eleandro ri.
VALESKA – A gente imagina uma coisa meio contos de fada, mas a vida real é bem diferente e mostra que situações ruins, adversas podem nos aproximar de um sonho.
ELEANDRO – Sempre te admirei, morena. Tu sabe que sempre te tratei no respeito. Até então eu era amarradão na da Tamires. Mas aquela lá quer vida de madame e eu não sou marajá pra isso.
Valeska se levanta enrolada no lençol, vai ate uma mesinha, e retira um cigarro da carteira.
ELEANDRO – Tu fuma?
VALESKA – Às vezes. Mas me diz mais. Me diz o que tu sente por mim, o que tu sente por Tamires.
Eleandro se levanta e começa a beijar o pescoço de Valeska.
VALESKA – Tu ainda gosta muito dela, não é?
ELEANDRO – A gente não esquece uma pessoa da noite pro dia, né?
Valeska acende o cigarro e dá uma tragada forte.
VALESKA – Eu só espero não ser a ponte até o seu objetivo.
ELEANDRO – E quem é meu objetivo?
VALESKA – Você me diz.
Em Valeska.
CENA 19. PRAZERES. RUAS. EXT. DIA.
Sabine desce de um ônibus e anda pelas ruas. Logo após, Esther salta de um carro importado e começa a segui-la.
CENA 20. APARTAMENTO DE EDGAR. SALA. INT. DIA.
A campainha toca e Ayres atende. Ela dá de cara com Joanne. Edgar se aproxima.
EDGAR – Quem é, Ayres?
Joanne entra e olha fixamente para Edgar.
JOANNE – Acho que a gente precisa ter uma boa conversa, não é?
Em Joanne.
CENA 21. CASA DE DOS ANJOS. EXT. DIA.
Sabine entra. Esther fica parada ali na calçada, olha a casa com desdém.
ESTHER – É nesse muquifo que a Sabine mora? Mas é nunca que ela será casada com um D’Ávila.
Nesse instante passa um rapaz por ali.
ESTHER – Moço, por gentileza, me dê uma informação.
RAPAZ – Pois não?!
ESTHER – Sabe me dizer onde mora a Sabine?
RAPAZ – A Sabine cartomante?
Esther fica surpresa.
ESTHER – Cartomante?
RAPAZ – Bom, podemos estar falando de Sabines diferentes. Mas a Sabine que me refiro é uma morena bonita, olhos verdes, que trabalha como cabelereira lá no bairro dos ricos. É essa que a senhora procura?
Esther fica desorientada, apenas olha para o rapaz.
RAPAZ – É essa Sabine, dona?
Esther coloca as mãos sobre a cabeça, se apoia no muro.
RAPAZ – A senhora tá bem? Quer que eu chame a mãe da Sabine? Ela pode lhe dar um chá e uma reza. Acho que a senhora deve tá atrás disso.
ESTHER – Tá amarrado!
Esther sai depressa dali, meio desnorteada.
CENA 22. APARTAMENTO DE EDGAR. SALA. INT. DIA.
Edgar e Joanne frente a frente. Ayres mais atrás, fecha a porta.
AYRES – Quer que eu fique, chefinho?
JOANNE – Você é um rato, Edgar.
EDGAR (a Ayres) – Dá licença pra gente. Vai respondendo a galera do blog.
AYRES – Precisando é só chamar.
Ayres sai em direção ao quarto.
EDGAR – Então eu sou um rato, delegada?
JOANNE – Você postou uma foto minha beijando o Kléber. E sabe o que isso significa?
EDGAR – Que você, no mínimo, é amante dele.
JOANNE – Eu não concedi aquele beijo. Eu não quis aquilo.
EDGAR – Você pode dar mil declarações, doutora, mas a foto é categórica. O que está feito, está feito. Não dá pra voltar atrás.
JOANNE – Mas pode ser reparado. Aliás, vai ser reparado. Você vai retirar aquilo do ar e vai me pedir desculpas publicamente.
Edgar começa a gargalhar.
JOANNE – Eu não tô brincando, Edgar.
EDGAR – Pensasse nisso antes de dar condição pro ricaço lá, querida. Eu só fiz o meu trabalho.
JOANNE – Um trabalho sujo, desonesto. Você representa o que há de pior na imprensa brasileira. É aquele tipinho de gente que quer se manter em evidência e faz qualquer servicinho sujo pra isso. Que nojo!
EDGAR – Fiz algo ilegal, doutora? Vai me prender?
JOANNE – Você é mesmo um ignorante de marca maior, não é? Aposto que acha que jornalismo é pegar uma câmera e sair por aí fotografando e filmando as pessoas. Mas eu vou aos tribunais. O que você fez é caracterizado como dano moral. Além disso, minha imagem profissional foi manchada e eu fui afastada das minhas funções temporariamente, ou seja, mais dano moral.
EDGAR – Eu tô pronto pra guerra, doutora. Mas eu não retiro a publicação.
JOANNE – E pensar que eu te ajudei, te dei proteção policial.
EDGAR – Você me ofende, me chama de rato, ignorante e o caralho a quatro, mas quando precisou de mídia pra poder desvendar a tal carta criptografada, recorreu a mim. Já se esqueceu? Se esqueceu também que foi graças a essa sua ideia genial que eu fui ameaçado e por isso precisei de proteção? Sua memória é muito menor do que tua autoestima, doutora. A senhora tá colocando em mim uma culpa que é sua. Se o tal ricaço não te assumiu, se vocês têm algo sério ou não, não é aqui, me ofendendo que a senhora vai achar essas respostas.
Joanne fica cabisbaixa. Edgar vai até a porta e a abre.
EDGAR – Melhor a senhora ir embora.
Joanne levanta a cabeça e o olha nos olhos.
JOANNE – Nada disso modifica o fato de você ter feito uma matéria suja e tendenciosa. Tem troco. E ele será no tribunal.
Joanne sai. Edgar bate a porta com força.
CENA 23. APARTAMENTO DE ESTHER. SALAD DE ESTAR. INT. DIA.
Esther está de pé falando ao telefone.
ESTHER (tel.) – Tá bem, querida. Que bom que aceitou. Te espero as oito. Beijo.
Esther desliga o telefone. Lucas entra.
LUCAS – Oi, mãe.
ESTHER – Oi, meu filho. Que bom que está aqui. Hoje eu chamei a Sabine, minha cabelereira, para jantar com a gente. Você se incomoda?
Lucas se surpreende.
LUCAS (disfarçando) – Não, claro que não. Tá tranquilo.
ESTHER – Que bom. Vou pedir a cozinheira para preparar algo bem gostoso para ela.
Esther sai. Em Lucas, pensativo.
CENA 24. MANSÃO MAGALHÃES. SALA DE ESTAR. INT. DIA.
Consuelo e Tamires estão sentadas no sofá, lendo revista.
TAMIRES – Mas, dona Consuelo, por que eu tenho que saber sobre economia? Eu detesto matemática.
CONSUELO – Uma mulher da alta classe tem que saber o mínimo de tudo, minha querida. Uma mulher rica acaba sendo executiva em algum momento, mesmo que seja para administrar a compra de sapatos.
TAMIRES – Mas eu não entendo.
CONSUELO – Para de perguntas e leia com atenção. Aprenda a ser culta.
Tamires volta a ler. Nesse instante, Kléber entra, vindo da rua.
Consuelo se levanta, surpresa.
CONSUELO – Kléber?
KLÉBER – Eu já sei o que me espera, Consuelo.
CONSUELO (a Tamires) – Termina de ler a revista no seu quarto.
Tamires sai.
CONSUELO – Senta aqui antes de subir, Kléber. Eu preciso falar com você.
Nos dois se olhando.
CENA 25. APARTAMENTO DE JOANNE. SALA. INT. DIA.
Joanne e Élio estão um de frente para o outro.
ÉLIO – Vim saber como você está de verdade. Agora como amigo.
JOANNE – Eu tô mal. Pior impossível.
ÉLIO – Mas isso vai passar. É que foi agora, tá tudo muito recente. Você vai passar. Talvez tenha sido melhor que isso tenha acontecido agora.
JOANNE – Eu fui uma burra, uma inútil, cara. Pensa comigo: o cara me levou na maciota por anos. Eu fui amante do Kléber por anos. Eu ameaçava sair disso, mas no fundo eu não tinha coragem. O que tá acontecendo é culpa exclusivamente minha, entendeu?
Joanne começa a chorar, Élio se aproxima e a abraça.
SONOPLASTIA: AONDE QUER QUE EU VÁ – PARALAMAS DO SUCESSO.
ÉLIO – Eu tô aqui com você e sempre estarei, tá bem?
JOANNE – Mas eu não mereço.
ÉLIO – Você merece tudo. Você é amor. É o meu amor.
Joanne e Élio se beijam.
CENA 26. MANSÃO MAGALHÃES. QUARTO DO CASAL. INT. DIA.
PANORÂMICA. Marta está sentada na cama, de cabeça baixa. A sua frente há um pequeno monte de cinzas. Tempo nela. Pouco depois, Kléber entra.
KLÉBER – Então a sua mãe me disse a verdade.
Marta se levanta, olhos muito vermelhos.
KLÉBER – Eu tô aqui, porque eu achei que você merecia uma explicação.
MARTA – Não há explicação para o que você fez.
KLÉBER – Eu não tô falando disso. Tô falando desse momento. Sua mãe me alertou que você havia queimado as minhas coisas, que fez um escarcéu.
MARTA – Eu fui exposta, Kléber. Precisava disso?
KLÉBER – Tem razão, Marta, não precisava. Eu deixei isso ir longe demais.
MARTA – Sim. O seu caso com aquela vagabunda foi longe demais.
KLÉBER – Eu me refiro ao nosso casamento. Ele durou tempo demais. Eu não precisava ter ido tão longe.
MARTA – O que?
KLÉBER – Eu me casei com você, Marta, mas não foi por amor. Eu precisava de um nome e de um capital pra subir na vida. Eu tinha a ideia brilhante, mas faltava o resto, entende?
MARTA – E eu fui essa moeda de troca?
KLÉBER – Você nunca foi meu alvo. Mas como você me quis e eu não tava com tempo e nem paciência para procurar outra mulher da elite, vi que você me serviria.
MARTA (incrédula) – E você diz isso assim, com essa naturalidade? Como se eu fosse um recurso, um objeto pra você enriquecer?
KLÉBER – Se você não fosse tão chata, tão ciumenta, eu juro que tentava. Mas não deu. E que bom que meu caso com a Joanne foi exposto, sabe? Assim eu me livro logo de você. Tchau.
Kléber sai.
MARTA (saindo/gritando) – Volta aqui, seu cachorro.
CENA 27. MANSÃO MAGALHÃES. SALA DE ESTAR. INT. DIA.
Consuelo está de pé. Kléber desce as escadas calmamente, logo atrás vem Marta, que desce chorando.
MARTA – Espera, Kléber!
CONSUELO – Deixa ele ir, Marta. O Kléber só quis te usar. Deixa ele ir.
KLÉBER – Ouve a sua mãe, Marta. Ela é sensata.
Marta corre e se põe diante da porta.
MARTA – Aqui você não passa. Dessa casa você não sai. Não, você não vai sair da minha vida assim.
KLÉBER – Para com essa cena ridícula. Você tá patética, mais do que já é.
MARTA – Por favor, Kléber, fica comigo.
KLÉBER (sério) – Sai da minha frente.
Marta se ajoelha diante de Kléber.
MARTA – Eu te peço, de joelhos, fica comigo. Por favor, fica comigo. Continua casado comigo, eu te peço.
CONSUELO – Onde tá a sua honra, Marta Beatriz? Deixa esse abutre ir embora.
Marta se abaixa mais, segura os pés de Kléber.
MARTA – Fica comigo, por caridade. Por favor, fica comigo. Eu te pago. Quanto você quer? Eu te pago por mês, deixo você ter amantes, mas fica comigo.
KLÉBER – Eu só quero uma coisa de você, Marta. Distância!
Kléber se desvencilha de Marta e sai. Marta deita no chão, chorosa. Consuelo a olha com ar de reprovação.
MARTA – Ele se foi, minha mãe. O amor da minha vida se foi.
CONSUELO – A sua cena foi deprimente, Marta. Que decepção. Agora se levanta e seja digna.
Marta se levanta, seca as lágrimas e vai até a cristaleira.
CONSUELO – O que vai fazer?
Marta pega uma garrafa de uísque e começa a subir as escadas.
CONSUELO – Isso! Vai beber no seu quarto.
Em Consuelo, irritada.
CENA 28. APARTAMENTO DE JOANNE. QUARTO. INT. DIA.
Élio e Joanne estão deitados na cama, nus. O celular de Élio toca. Ele atende.
ÉLIO (cel.) – Oi. (P) Ok, estamos indo aí para buscar você. Tchau.
Élio se levanta rapidamente e começa a se vestir.
JOANNE – O que foi?
ÉLIO – Levanta e se arruma. Nós vamos atrás do homem que tinha ligação com o Teodoro.
JOANNE – Mas eu tô fora da investigação.
ÉLIO – Eu disse que estou com você, não é?
Joanne faz que sim com a cabeça.
ÉLIO – Então... Chegou a hora da gente fazer nossa investigação, com a nossa lei. Eu tenho um plano. Se arruma que eu vou te contando.
Em Joanne, surpresa.
CENA 29. STOCK SHOTS. EXT. NOITE.
MÚSICA DE SUSPENSE. Takes rápidos e pontuais do bairro Prazeres.
CENA 30. BAIRRO PRAZERES. RUA. EXT. NOITE.
Música cessa. Uma viatura da polícia para, Joanne, Élio e Daiana descem do carro.
ÉLIO – É aqui, Daiana?
DAIANA – Aquele portão verde ali, enferrujado.
JOANNE – Lembra o nome dele?
DAIANA – Bastião. Foi assim que o Teodoro o chamou.
ÉLIO – Volta pro carro e se tranca aí. Daqui pra frente é comigo e com a Joanne.
Daiana entra no carro. Élio e Joanne começam a atravessar a rua.
JOANNE – Acha que vai dar certo?
ÉLIO – Não sei, mas pode ser a nossa única chance.
JOANNE – Então vamos dar o nosso melhor.
CENA 31. CASEBRE DE BASTIÃO. INT. NOITE.
Local pequeno e muito sujo. Bastião está contando dinheiro, quando ouve barulho de palmas.
JOANNE (v.o) – Senhor Sebastião!
Bastião guarda o maço de dinheiro embaixo do colchão. Close nele, ressabiado.
CENA 32. CASEBRE DE BASTIÃO. EXT. NOITE.
Joanne bate palmas mais uma vez, tudo permanece quieto.
JOANNE – Acho que não está.
ÉLIO – Será que não tá mais aqui?
Nesse instante, Bastião aparece.
BASTIÃO – Que foi que tão me chamando?
Élio aponta arma na cabeça de Bastião, enquanto Joanne o algema.
JOANNE – O senhor está preso.
BASTIÃO – Preso? Mas pelo quê?
JOANNE – Preso pelo assassinato de Tânia dos Anjos.
Em Bastião, surpreso.Autor:
Wesley Alcântara
Elenco:
Carolina Ferraz como Joanne Andrade
Dalton Vigh como Kléber de Magalhães
Deborah Evelyn como Marta Beatriz Castelo Branco de Magalhães
Marco Pigossi como Edgar Zampari
Letícia Persiles como Sabine dos Anjos Souza
Rômulo Estrela como Élio Fiúza
Marcello Melo Jr. como Eleandro Silva
Caio Paduan como Lucas D’Ávila
Narjara Turetta como Daiana Oliveira
Gabriella Mustafá como Tamires dos Anjos Souza
Luka como Ayres Costa
Cauã Reymond como Valeska Moretti
Ângela Vieira como Esther D’Ávila
Atores Convidados:
Stenio Garcia como Orestes Blumenau
Francisco Cuoco como Bastião Souza
Atrizes Convidadas:
Eva Wilma como Consuelo Castelo Branco
Zezé Motta como Dos Anjos
Participações Especiais:
Cris Vianna como Tânia dos Anjos
Carmo Dalla Vecchia como Teodoro Malta
Trilha Sonora:
Martelo Bigorna – Lenine (abertura)
Aonde quer que eu vá - Paralamas do Sucesso
Produção:
Bruno
Olsen
Cristina Ravela
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança
com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera
coincidência.
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