Diversões de Férias
de Matheus Adoni
No último dia de aula do 2º ano do
colegial, todos notaram minha alegria e ansiedade. Não era para menos: eu
sorria de orelha a orelha. Finalmente teria tempo para me divertir e fazer
coisas excitantes.
Durante todo aquele ano, tive que bancar o
bom garoto, e acho que foi justamente por isso que todos se surpreenderam com
minha animação com o fim das aulas. Eu realmente gosto de estudar, mas não é o
suficiente para mim. Preciso sentir a vida.
Após o fim das aulas, caminhei com alguns colegas
até suas casas; precisava ser o mais agradável possível enquanto houvesse
alguém por perto. Nas noites que se seguiriam, um outro eu – o meu eu de
verdade – sairia, sem necessidade de lua cheia no céu.
Naqueles primeiros dias de férias esperei
a agitação inicial passar, pois são neles que as pessoas, em especial os
jovens, começam a sair e passar a madrugada nas ruas; mas isso logo acaba, e
passam a voltar cada vez mais cedo para suas casas. Então as ruas ficam
desertas e a noite é minha.
Durante a primeira semana, saí com meus colegas e amigos dos quais gosto bastante – afinal, apesar de tudo, pude verificar que não sou um sociopata, e sinto de maneira intensa. Comi batata frita com eles e uma garota até tentou me “namorar”. Mas não era esse o meu desejo para aquelas noites; meus planos eram outros. Como já disse, preciso sentir a vida.
Na metade da segunda semana de férias, uns
onze dias após o fim das aulas, peguei minhas coisas e saí de casa, quando já
passava da meia-noite. Como era de se esperar de uma madrugada no meio da
semana, a cidade estava bastante calma e as ruas, quase desertas. Eu estava usando uma toca que
havia ganhado como presente de aniversário, e eu só a usava (e ainda uso) em
ocasiões especiais.
Aquela parte da cidade – e eu já havia caminhado
alguns quilômetros, mas tenho bom preparo e estou acostumado a caminhadas longas
– era bem triste: ali estava a maior parte dos moradores de rua, e à noite eles iam para
becos e para baixo das pontes e viadutos. Fui para ruas de pouca movimentação e
andei por elas sem encontrar ninguém. Eu sabia que já passava das duas da
manhã, e estava prestes a resolver ir para casa. Então eu o vi: estava deitado
na calçada, sob a sombra de uma árvore, onde a luz dos postes não o denunciava.
Estava sobre um papelão, e coberto por alguns trapos.
A rua, por sorte, era das mais desertas
pela qual havia passado naquela noite. Ele estava dormindo. Então me aproximei.
A dois metros percebi que era um homem alto, mas bem magro. Puxei a bola de
tecidos de meu bolso com a mão esquerda e, com a direita, puxei a navalha presa
com um elástico no meu braço esquerdo. Agachei-me, lenta e silenciosamente, até sentir o hálito dele; coloquei
a lâmina na lateral de seus pescoços, sobre a
jugular, e a cortei: ele abriu os olhos, confuso, sem entender. Viu-me, sentiu o sangue e
percebeu o que acontecia. Seu olhar, ao perceber o fim tão próximo, foi
emocionante para mim. Quando ele abriu a boca para tentar gritar, larguei a
navalha e enfiei a bola de pano em sua boca. Empurrei-a com força, enchendo sua boca até a garganta. Ele se agitou,
tentando se levantar, se libertar das amarras da morte.
Seus braços sacudiam no ar. Meu joelho
estava em seu peito, mas ele reuniu forças sabe-se lá de onde e quase se
levantou. Então o agarrei pelos cabelos e forcei para baixo e bati sua cabeça
contra o concreto da calçada; uma, duas, três vezes, até ouvir o crânio se
partir e o sangue lhe molhar os cabelos. Ele ficou bem calmo, como uma criança
de castigo, e assim como uma criança vi lágrimas saírem de seus olhos.
Meu coração batia muito rápido. Sentei-me ao lado dele, que
estava com os olhos abertos, mas parecia prestes a adormecer. Sua respiração
estava pesada. Ele esticou a mão esquerda e tentou me tocar. Iria recolher meu
braço, mas então permiti que ele segurasse-me pelo pulso, que apertasse meu braço.
A mão dele estava limpa, não havia sangue.
Tirei a luva cirúrgica e coloquei sobre o corte no pescoço daquele homem, e
pressionei levemente, sentindo o sangue passar entre meus dedos; eu preciso
sentir a vida. E aquela estava indo embora.
CAL - Comissão de Autores Literários
Bruno Olsen
Cristina Ravela
Esta é uma obra de ficção virtual sem fins lucrativos. Qualquer semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência.
REALIZAÇÃO
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